quinta-feira, 25 de setembro de 2008

De dois analfabetos

Já há algum tempo venho adiando este texto, que vem circulando nas minhas idéias, aos poucos tomando forma.

É difícil escrever a respeito dos meus alunos. Quem são eles?

Presos. Menores infratores condenados. Moleques que acham que roubar é “profissão”. No CRM, alguns presos aguardando julgamento, outros têm cara de malandro, suástica tatuada, cabelos brancos. Funcionários “de fora”, como eu, não ficam sabendo por qual crime os detentos estão condenados. Isso funciona tanto para o bem como para o mal. Às vezes vc se pergunta: o que fez esta pessoa parar aqui? E não tem autorização para perguntar, o que chega a ser angustiante. Às vezes eles falam espontaneamente, na maioria das vezes vc nunca fica sabendo.

Entre os muitos que eu vejo ir e vir, serem condenados e serem libertados, suas histórias sempre me fazem refletir. Suas personalidades sempre deixam em mim uma certa marca. Suas histórias me tocam, me engrandecem em experiências de vida, no conhecimento do ser humano.

O primeiro traço característico que se nota em quem está preso é a pobreza. Não defendo uso de clichês, mas pobreza que se nota, transparece através dos uniformes e sandálias havaianas. Pelo gestuário, pelo palavreado, pelos assuntos.

Na Fundação CASA (Centro de Atendimento Sócio-educativo ao Adolescente), novo nome da FEBEM (Fundação para o Bem-Estar do Menor), esse traço é marcante. Os meninos são, sobretudo, de periferia. Criados em famílias desestruturadas. Todos os clichês da “quebrada”: rua de terra, sem iluminação pública, escola deficiente, mães adolescentes, vários padrastos, parentes já presos etc. Cedo aprendem, em casa ou na rua, que roubar “os ricos” é normal, que traficar é apenas mais um ramo do comércio, que a justiça é feita pelos traficantes da “comunidade” e não pelo Estado Brasileiro. Que PM (policial militar) é inimigo e que todo político é ladrão.

Atualmente leciono para 45 alunos “menores infratores” com liberdade sancionada em regime de internação na CASA, divididos em 4 salas de aula. 20 na quinta e sexta. 20 divididos em duas sétimas e oitavas. 5 no ensino médio. Dá para perceber o gráfico em pirâmide que se forma? No CRM, leciono para 46 detentos, alguns em regime semi-aberto, outros em regime fechado, das mais variadas idades, condenados ou aguardando julgamento, em uma sala de ensino médio.

Como contar suas tristes histórias? Sinto tanta dificuldade em escrever sobre isso e parecer que os estou submetendo a algum tipo de “pesquisa de campo” sociológica... Não é esta a intenção, mas dou-lhes uma certa liberdade para conversar, que eles não desfrutam na presença dos seguranças. Gosto de nas minhas aulas ceder-lhes um raro respiro de uma relativa liberdade. E eles acabam se abrindo. Não há como ficar imune e não refletir sobre o que eles falam.

Como o menino que esteve preso por roubar R$30 e cinco pacotes de Passatempo na padaria do bairro. Ou o que voltou em reincidência por roubar uma bicicleta. Ou o que roubou um tênis. Ou os que estão presos por torturar uma vítima de assalto, por haver esfaqueado e assassinado um idoso, ou mesmo por estupro.

Muitos de seus crimes são chocantes, mas suas histórias são tocantes. Como o menino que teve a prima de 8 anos estuprada em um terreno baldio. E que testemunhou a irmã de 16 anos ser vítima de uma tentativa de estupro; meninos cujo pai, ou mãe, ou tio, está preso já há muitos anos? Os irmãos, os primos, os vizinhos, que ficam presos juntos? Muitos são órfãos. Muitos nunca conheceram o pai. Muitos são os criados por parentes, e não pela mãe. Muitos chegam semi-alfabetizados, os famosos “analfabetos funcionais”. Outros completamente iletrados.

Dois meninos analfabetos me tocaram profundamente. Fernando. Rapaz negro, paranaense, atarracado, bastante forte. Disse certa vez que ganhava R$5.000,00 reais por mês no tráfico. Chegou sem saber escrever o próprio nome. Sem conseguir fazer operações simples de adição e subtração. Não sei se a história sobre o seu lucro é verdadeira, mas soube que ele havia fugido de casa no Paraná por conta de violência doméstica e tinha vindo para em SP pegando carona com caminhoneiros. Certa vez tivemos uma festa de confraternização em que foram servidos produtos produzidos pelos próprios meninos da oficina de panificação. Pão de queijo, panetone, pães em geral. Nesta ocasião Fernando comeu exatos 14 pedaços de panetone. Em meio a isso perguntei-lhe: Nossa, vc deve estar com fome?! Disse-me ele: Professora, nunca comi uma coisa tão gostosa na minha vida! Panetone de frutas secas, uma coisa tão banal, que sempre sobra na minha mesa de Natal... Fernando nunca tivera um Natal como os meus.

Outro é Geremias. Com G mesmo. Geremias faz aniversário no dia 29 de dezembro. Eu faço aniversário no dia 29 de dezembro. Ele consegue, com muita dificuldade, identificar letras de fôrma. Não, porém, letras de mão. Eu entendo um pouco de paleografia, a ciência de decifrar a escrita em documentos antigos. Um abismo nos separa. Deveríamos ter sortes muito parecidas, não?

Geremias é um rapaz branco, atarracado, dente da frente faltando, testa baixa, tem uma namorada em quem pretende fazer um filho assim que receber sua liberdade. Como ela é filha única, vê nisso uma possibilidade de se mudar para a casa dos sogros e começar uma vida nova Ao contrário de Fernando, que foi alfabetizado com sucesso, Geremias receberá sua liberdade ainda analfabeto. Fez alguns avanços na matemática. Já é capaz de somar números com 3 dígitos. Numa aula minha ele, ao invés de tentar copiar a lousa, fez um desenho e mo entregou ao final da aula. O guardo até hoje. São duas figuras humanas estilizadas. Têm olhos, boca, ouvido, cabelos, pernas, braços, roupas. Um desenho até bonito. Meio que estilo cartoon. Destaca-se que nenhuma das duas figuras humanas têm mãos. Têm pés, mas não têm mãos. Os traços se encerram no punho, num corte seco. Não sou formada em psicologia, mas não pude deixar de perceber que esse detalhe demonstra que Geremias se vê maneta, literalmente incapaz de lidar com o mundo. Que ele inconscientemente percebe que seu iletramento o torna incapacitado, deficiente. E isso infelizmente não foi alterado em seus 6 meses de FEBEM.

É muito difícil conviver com tais histórias. Ver o quanto tenho uma vida confortável e sou privilegiada perto deles. E saber que eles são “o inimigo”. É por causa de pessoas como Fernando e Geremias que passo o cadeado todos os dias no portão. São pessoas como eles as que assaltam, as que seqüestram, as que matam, as que mantém a “classe média” em estado de sítio. São eles que eventualmente aparecerão em reportagens no programa do Datena.

É muito difícil conviver com os dois lados dessa história. Conhecer tanto sua Humanidade quanto sua desumanidade, em vários sentidos.

Existem muitos outros menores e maiores cujas histórias valem o registro. Aos poucos falarei mais. Quem ler, por favor deixe registrado em comentário, mesmo que apenas um “eu li”.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

“O inssino no Brasiu è otimo”. Ou de Veja

Está escrito na capa dessa semana. Sim, confesso, eu leio Veja. Não pq eu queira, mas como sou professora do estado e não posso assinar revistas realmente críticas e profundas, me contento em ler a Veja que a minha vó assina.

Se eu acho a revista ruim? Não, não acho. O que sempre me incomoda é a postura de quem dá a “moral da história” de seus editores. Sempre dão um jeito de encerrar as matérias com alguma empoada (e lastimável) frase de efeito. Até aí, tudo bem, a Veja está no seu direito de defender a direita classe média brasileira. Pelo menos nela não encontro embaraçosos erros de português, como no jornal local.

À página 76 desta edição 2074 encontramos a pergunta “Educação ou doutrinação?” ao lado de uma curiosa imagem que só poderia sair da cabeça de um editor de Veja: uma caneta vira uma foice e um lápis vira um martelo. Morri de rir. Como professora de História e Geografia, é comigo mesmo que eles estão falando.

Fizeram uma pesquisa: “Qual é a principal missão da escola?”

78% dos professores responderam “formar cidadãos”, o que é criticado ao longo da matéria. Curiosamente, não está entre as alternativas as opções que seriam as mais votadas pelos editores de Veja: “Formar balconistas.”, ou “Formar vendedores” ou “Formar auxiliares de serviço geral”. Em suma, formar a mão de obra barata que a direita classe média brasileira precisa para extrair-lhe a mais-valia. Podendo, assim, mandar seus filhos bem nascidos para as melhores escolas, numa cena que me lembra algo do filme “O sorriso de Monalisa” quando Julia Roberts é criticada por sua diretora por apresentar Pollock às futuras donas de casa da classe alta e outra professora é demitida por distribuir contraceptivos.

Cuidado: Jackson Pollock e contraceptivos poderão vir para destruir o seu mundo, assim como para os editores de Veja vieram Paulo Freire e Che Guevara. (Ah, só Veja poderia tb escrever em outra capa “A farsa de Che”). Quantos neurônios são necessários para decodificar a agenda destes editores? Os meus não são tantos assim, mas bem-lapidados por “ideologias furadas e fadadas ao fracasso” como Veja as decreta, eles são capazes de alguns interessantes raciocínios.

Ao longo de toda a matéria fica clara a mensagem: pais, cuidado, pelo que os professores estão incutindo na cabeça de seus alunos, eles se tornarão um bando de terroristas ludistas. Cuidado, pais empresários! Seus filhos vão arruinar seu patrimônio amealhado com tanta dificuldade. As futuras gerações serão contaminadas por uma ideologia ultrapassada e espúria [sic] e isso é demasiadamente perigoso pois as crianças não serão preparadas para o mundo do séc. XXI. Seria a virtual universalização da educação a própria responsável pela eleição de Lula? Afinal, há uma massa de cerca de 50 milhões de alunos do ensino básico sendo doutrinados por uma minoria de 2 milhões de professores, que poderão virtualmente causar a perpetuação da esquerda no poder, numa retroalimentação moto-perpétua.

Ai, até eu estou com medo agora. Quem sabe então acontecerá o que me foi dito em 1994, quando eu contava 11 anos numa escola de freiras, a respeito do que aconteceria se Lula se elegesse: “Toda família bem de vida vai ter que adotar uma criança de rua”. Pensei logo: “Eu não quero dividir meu quarto com nenhuma criança de rua.” Hehehe, então eu tb não quis que o Lula ganhasse e achei bom que o FHC vencesse, afinal, o real acabara de chegar à cantina da escola e a lata de coca-cola tinha sempre o mesmo preço. Maravilhoso!” Agora, sem o Lula, eu poderia continuar comprando a minha latinha de coca-cola e meu salgado no intervalo pelo mesmo preço. De meus 11 anos pra cá, eu evoluí. A mentalidade de alguns editores de Veja, aparentemente, não. Não que eu pretenda voltar a votar no PT, é claro.

Veja considera que o maior problema da educação é o currículo ultrapassado. Concordo. Os livros didáticos são maçantes. Os exercícios, intermináveis e inúteis. Há excesso de decoreba e de coisas que não servirão para absolutamente nada. Sinceramente, a escola como hoje ela se apresenta é um gigantesco desperdício de tempo. O que se faz em 12 anos poderia ser feito com muito melhor proveito em 5 anos. Eu mesma só não fui “pulada de ano”, como solicitei diversas vezes a meus responsáveis, por questões burocráticas. Se eu tivesse pulado da quinta série pro segundo ou mesmo terceiro colegial, não teria perdido muita coisa. Tudo que não aprendi em 12 anos de escola, assimilei sem muita dificuldade no cursinho pré-vestibular.

Defendo a diminuição do número de anos escolares? Não. Defendo que se ensine coisas úteis, e não que se tente fazer com que os alunos decorem intermináveis fórmulas de hidrocarbonetos, ou fórmulas físicas. O que era o Delta mesmo? Era de física ou de matemática? Sei lá eu! Algumas matérias simplesmente foram deletadas do meu hardware.

E o que eu estou fazendo pra mudar isso? Apesar de trabalhar com o público carcerário, principalmente na FEBEM lido com adolescentes em idade escolar. Selecionados entre os piores elementos de suas respectivas escolas, muitos há vários anos afastados das salas de aula, a maioria maciça com histórico de mau-comportamento, vandalismo ou mesmo agressão a professores. Aboli o único livro didático em quantidade disponível, o Encceja e fiz por conta própria um resumo do que era interessante em vários livros didáticos que ganhei (livro didático é como água, sempre vão te dar uma pilha dos que “estão sobrando” por falta de uso). Adicionei a isso aulas muito interessantes, como uma explicação das diferenças entre as religiões, orientação sobre os poderes do Estado brasileiros, os cargos eletivos e o que fazer para ter um voto consciente (coloco ambas as coisas no mesmo nível de neutralidade), tb ensino sobre os diversos documentos e a finalidade de cada um, sobre o que é o imposto de renda, enfim, uma certa “educação para a burocracia”, que embora essencial, não consta do currículo oficial. Pretendo ler em breve a Constituição para ensinar a eles as bases fundamentais das leis que nos regem. Para que eles saibam, afinal, pq estão presos e com que autoridade o Estado dispõe sobre as liberdades do cidadão.

Eu tento formar cidadãos. Cidadãos que saibam dos seus direitos e deveres essenciais. Que saibam que pagam com seus impostos os salários do políticos. Que saibam que atendimento de qualidade no posto de saúde da “quebrada” não é favor, mas dever do prefeito. E que este não pode interferir em questões de segurança, de âmbito estadual, como vejo a desinformação invadir minha televisão durante o horário eleitoral. Alunos que saibam que reclamar para o vizinho que a rua não foi asfaltada não adianta, mas que uma carta ao jornal local pode ser muito eficiente. Muito mais coisas úteis não são ensinadas aos nossos alunos, e deveriam. Eu estou aos poucos tentando fazer a minha parte.

Se a editora Abril deseja fazer realmente uma boa ação no sentido de melhorar a educação no Brasil, solicito que envie gratuitamente e em quantidade suficiente a cada escola pública assinaturas não apenas de Veja, mas tb da Superinteressante, Nova Escola e assim por diante. Que pare de se colocar em cima de um pedestal para criticar e passe a agir um pouquinho. Sempre levo revistas Veja para meus alunos lerem. Essa semana, levei a da “farsa do Che”. Como ele é uma das imagens mais emblemáticas do séc. XX, facilmente identificável, alguns que o conheciam apenas pela foto de Korda e pelo nome me perguntaram: “Professora, quem foi Che?”. A resposta curta: “Che foi um revolucionário socialista”. Neutra? Talvez não para Veja. A resposta semi-curta: “Ernesto Guevara, o ‘Che’, era um médico argentino que numa viagem pela América Latina ficou chocado com a miséria e exploração das pessoas pobres, aderiu à ideologia do socialismo, fez a Revolução Cubana e ao tentar fazer o mesmo na Bolívia, acabou derrotado e executado.” Eu poderia dizer muito mais, mas mais que isso estaria além do que meus alunos compreenderiam. Não há muito espaço para doutrinação em minha sala de aula.

“Fernanda, vc tenta implantar idéias subversivas nos seus alunos?”

Certa vez uma amiga que fez faculdade comigo perguntou isso. Respondi-lhe com certa propriedade: “Nem que eu quisesse conseguiria. Primeiro eu tenho que fazer com que eles não tenham vergonha de sua cor, que não achem que bater em mulher é normal, que saibam pq eles são obrigados a cada dois anos a comparecer diante de uma urna.”

domingo, 17 de agosto de 2008

De Amy Winehouse, Ella Fitzgerald e Billie Holiday.

Sou uma apreciadora do jazz tradicional, motivo pelo qual via Amy Winehouse com certo pé atrás até há pouco tempo. Sou uma especial apreciadora de intérpretes femininas, que ressaltam a languidez das saudosas e muitas vezes tristonhas composições do jazz. Embora dançante, isso muitas vezes se dá no ritmo do dois-prá-lá, dois-prá-cá num belo solo de sax ou trombone que daria aos nossos colegiais a impressão de estarem num baile da saudade.

A primeira diferença das intérpretes clássicas em relação a Amy Winehouse que nos salta aos olhos é autenticidade e a delicadeza. Ausência de batida, de vibe, muitas vezes se ouve apenas um sutil dedilhar de piano dando apoio sem ofuscar a voz das intérpretes, como em “In a Sentimental Mood”, ou mesmo quando da presença contundente da great band em “Tea for two”, ela se cala para apenas delinear ao fundo a voz da intérprete. Mesmo uma música dançante e cheia de suingue, a qualidade técnica da voz de Ella Fitzgerald é ressaltada e não ofuscada pelas linhas instrumentais. Falta coragem da indústria musical de nosso dias para focar em músicas delicadas, elaboradas, com arranjos musicais feitos para parecerem imperceptíveis, apenas um fundo de apoio à demonstração da melancolia, sonhos e saudades de uma belíssima voz feminina. Falta coragem para fazer uma música com apenas dois ou três instrumentos clássicos – piano, trompete, saxofone.

Nas músicas de Amy, percebe-se uma voz mais melodiosa, que age como mais um dos instrumentos, e não sobrepujando-se a eles. Voz e instrumentos mesclam-se nas mesmas linhas. Amy não fala das fazendas de algodão, mas das clínicas de rebilitação. Amy não fala do clima chuvoso contra a janela, mas de um cara em sua cama e seu pensamento em outro.

Amy exala uma independência própria das mulheres de minha geração, que secam as próprias lágrimas, para quem o real desafio da vida é tentar resistir a todas as barreiras e desilusões tornado-se crescidas, diferente de Ella e Billie, cujo objetivo era encontrar o tal mister right. Agora temos percussão e guitarras que apromimam-na mais do funk (o clássico e não o carioca, claro, né?). Amy é a protagonista de sua própria vida, ao contrário dos personagens das antigas composições, em que temos alguém sempre à espera de outra pessoa – talvez isso seja alterado nos próximo disco. Mais displiscente, não é em cada nota que Amy põe a força vocal de que é capaz. As coisas tornaram-se mais informais e diretas nestas muitas décadas.

Tudo isso é muito mais perceptível em seu Back to Black que em Frank, seu disco de estréia, em que a batida pop é muito mais presente. Soa Como Nene Cherry, Morcheeba e Joss Stone, e bem menos com Ella e Billie, cujos acordes e força vocal são lembrados no segundo disco (com exceção da bela e clássica There is no Greater Love, que soa tanto como Billie, já presente em Frank). Os primeiro disco é mais variado, algo compreensível numa artista que ainda tem que se provar, e talvez atirar para todos os lados para tentar agradar a uma maior amplitude do público. Compreensível na menor liberdade criativa de artistas em início de carreira. O próprio nome Back to Black já sugere que ela retoma uma trajetória da qual talvez tenha se visto na contingência de transigir, aceitando uma escolha alheia de seu repertório. Amy agora não tem mais nada a provar. Apenas deve tentar manter-se viva e em pé. Parar de exalar a morte e decadência. Isso lhe dá uma aura interessante, mas como pode nos furtar de uturos discos, espero que tudo o mais passe.

Amy não tem idade nem sofreu preconceitos ou colheu algodão para ser melancólica como as intérpretes clássicas, e é bom que Amy limite sua ambientação de época ao penteado e maquiagem caricaturais. Embora todo jazz sempre parta do clássico, a releitura da judia inglesa de galante sobrenome soa como algo de nosso tempo. Aos poucos, conforme amadureça, Amy poderá nos presentear com sempre novas jóias musicais, pois seu talento intrínseco não fica desapercebido a quem escuta suas músicas.

Sou da opinião que toda vida interessante deve ter uma boa trilha sonora. Amy Winehouse acaba de entrar para a minha lista de artistas preferidos.

Indicações de músicas para quem quiser procurar:

Ella Fitzgerald – Don't get around much anymore
Ella Fitzgerald – Accentuate the positive
Ella Fitzgerald – Ain't got nothing but the blues
Ella Fitzgerald – Sophisticated lady
Ella Fitzgerald – Tea for two
Ella Fitzgerald – I got rhythm
Ella Fitzgerald – Stormy weather
Ella Fitzgerald – Here's That Rainy Day
Ella Fitzgerald – Heart And Soul
Ella Fitzgerald – In a Sentimental Mood
Billie Holiday – As Time Goes By
Billie Holiday – Blue moon
Billie Holiday – Dream a little dream of me
Billie Holiday – I'll be home for Christmas
Billie Holiday – Summertime
Billie Holiday – Them There Eyes
Billie Holiday – Night and Day
Billie Holiday – I'm a Fool to Want You
Billie Holiday – I'll Be Seeing You
Amy Winehouse – Rehab
Amy Winehouse – You Know I'm No Good
Amy Winehouse – Just Friends
Amy Winehouse – Back To Black
Amy Winehouse – Tears Dry On Their Own
Amy Winehouse – He Can Only Hold Her
Amy Winehouse – Addicted
Amy Winehouse – (There Is) No Greater Love
Amy Winehouse – What Is It About Men?

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Do medo, da FEBEM e do “cadeião”

Qual foi a situação mais periculosa de sua vida? Estar num carro com um motorista bêbado dirigindo perigosamente? Perder-se numa “quebrada”? Andar sozinho à noite no centro de São Paulo? Engolir seco diante de um policial mal-preparado?

Quando vc teve mais medo em sua vida? Indeciso diante da inscrição do vestibular? Perder o emprego e achar que não vai conseguir outro tão cedo? Ser assaltado e se ver sem dinheiro sequer para pegar um ônibus? Sendo “peitado” por uma pessoa que vc sabe que está disposta a te agredir fisicamente?

Nesta quarta-feira passei por uma situação incrivelmente periculosa e amedrontadora e surpreendentemente, o que senti não pode ser classificado como “medo”, mas como “receio”. Estava receosa de que algo poderia acontecer, e não com medo que alguma coisa estivesse prestes a acontecer.

Engraçado como o destino vai aos poucos nos encaminhando. Depois de formada, distribui alguns currículos, e como tenho licenciatura, me inscrevi para dar aulas no Estado. As aulas são escolhidas de acordo com um ranking de pontuação, por títulos e especializações, mas especialmente pelo tempo de trabalho na rede estadual. Minha pontuação? 0,000. Às vezes os números falam mais do que palavras.

Na escolha oficial das aulas “normais”, não sobrou nada pra mim... Resolvi ir a uma atribuição específica para a Fundação CASA (FEBEM) de Rio Claro, recém-inaugurada. Mais uma vez, não peguei aulas L . 2 semanas depois, já meio desanimada de não estar conseguindo nada, recebi uma ligação, me chamando para uma nova atribuição da FEBEM. Compareci eu e um outro professor, mais experiente, com maior pontuação. Ele era um cara musculoso, grandão, e logo que o vi tive certeza que escolheriam a ele. Como a FEBEM é “diferenciada”, fomos entrevistados. Surpreendentemente, me chamaram de volta e dispensaram o outro candidato. Me disseram que era pq eu já conhecia o material didático a ser utilizado, o método Encceja, com assinatura do Gabriel Chalita. Às vezes um só nome fala mais do que muitas palavras...

Eu conhecia mesmo, tenho uma cópia do material que veio às minhas mãos por acaso (?), quando no começo do segundo ano de faculdade houve uma grande distribuição gratuita de livros numa calourada. Levei pra casa a caixa pesada do material, que estava sobrando e ninguém mais queria. Isso me valeu meu atual emprego. J Depois soube que eu havia pegado as aulas da FEBEM depois de 3 desistências.

A primeira sala de aula que encarei assim que me formei foi uma turma de ensino médio com 12 “menores infratores” dentro da FEBEM. Assustador o suficiente pra vc? Vesti a personagem da “senhora Fernanda” (os alunos são obrigados a chamar a todas as funcionárias mulheres por “senhora”, não importa a idade) e fui adiante. Aos poucos aprendi as gírias, macetes e valores de quem vive na criminalidade, e passei a entender, e a deixar de temer para apenas recear seu mundo.

Quem trabalha numa detenção logo aprende que se vc não se impõe, não se “faz de macho”, não levanta a voz e coloca eles no seu lugar, eles “montam em cima de vc” e vc perde seu emprego. Vi umas 2 dezenas de funcionários serem demitidos pq “não tinham perfil” para trabalhar com esse “público”. E como “mente vazia é a oficina do demônio”, o mais divertido passatempo dos menores é testar e tentar “entrar na mente” dos funcionários, especialmente os que parecem mais frágeis, como uma menina magrinha (agora já não tanto) de 24 anos recém-formada. Que havia aprendido muito sobre Braudel, Caio Prado, Vygotsky e Rousseau, mas absolutamente nada sobre como dar uma aula.

No começo usei o Encceja, mas depois descobri que eu poderia ter total autonomia sobre o conteúdo a ser ensinado. Maravilha. Desenvolvi um conteúdo baseado em diversos livros didáticos e no que eu acho que realmente merece ser ensinado, descartando as discussões sobre remanescentes de quilombo pra quem nem sabe o que é a escravidão ou sobre a fundação de Roma pra quem não sabe o que a.C. e d.C. significam.

Agora voltamos ao “mote” deste texto. De alguma forma consegui me manter na FEBEM, agora já na quarta atribuição de aulas. Daí, surgiu um novo telefonema nesta terça-feira. Estavam me ligando do CRM, perguntando se eu estava disposta a dar aulas no período noturno. Claro! CRM? É alguma escola particular? Não, e conforme a funcionária muito simpática e aliviada por finalmente encontrar um professor foi me explicando, a sigla se referia ao “cadeião” de Rio Claro.

Topei. Chegar lá à noite sozinha numa estrada de terra no meio de uma “quebrada”? No primeiro dia, com medo de me perder, pedi pra minha avó ir me levar e depois me buscar. Entrei. Me deram a lista de chamada. 50 alunos. Engoli seco. A “sala de aula”? Um pátio, com um tapume de madeira no meio e duas lousas nas extremidades. Do lado do fundamental, com uma segunda professora, 70 presidiários. Do meu lado, no ensino médio, 50 presidiários. Tatuagens, cabeças brancas, uniformes em diferentes cores, dentes faltando. Duas mulheres num saguão com 120 presidiários? A distância do agente de segurança mais próximo? Dois portões gradeados de metal trancados e uns 150 metros. Assustador o suficiente pra vc? Para fins de comparação, na FEBEM cada professor fica em média com uns 12 alunos, e a uns 5 metros, sem portas trancadas, de pelos menos 3 agentes de segurança e dois agentes educacionais. São 4 salas de aula, totalizado em torno de 46 “internos”, com 4 professores. “Outro esquema”.

Blz, já aprendi a me “fazer de macho” e a falar alto esculachando “bandido” folgado (odeio isso e me sinto mal toda vez que o faço, mas é necessário). Logo no primeiro dia, a outra professora, novata no sistema carcerário, estava sendo desrespeitada pelos “alunos”. Como eu sabia que se ninguém fizesse nada aquilo adquiriria sempre maiores proporções, não tive dúvida, fui pro lado dela do tapume, pedi licença e fiz um discurso moralista pros alunos dela. 70 presidiários contra uma desconhecida “patricinha metida” curiosamente usando um jaleco de médico do hospital Albert Einstein (essa é outra história...)? Sem problemas, falei usando todos os chavões do “respeito”: “ela é uma senhora que está aqui fazendo um trabalho honesto”, “ela merece o mesmo respeito que as esposas e mães de vcs” e assim por diante. Quem tá preso adora dizer que não é bandido e tem altos valores morais, o que inclui respeitar quem é trabalhador, especialmente as mulheres, especialmente as senhoras com jeito de mãe, como a outra professora.

Para minha sorte, a maioria ficou quieta, alguns concordaram, e meus alunos até falaram “é isso mesmo!” e pude arrematar com um “Se não tiver respeito aqui dentro, ninguém vai poder dormir, pq não sabe se vai acordar.” Muito bom. Mas nada disso me prepararia pra o que ocorreu logo no segundo dia.

Nove e quinze da noite. Meio da aula. Todas as luzes de repente se apagam. Duas mulheres sozinhas num pátio com 120 presidiários, a 150 metros e duas portas trancadas de distância de um solitário agente de segurança? Breu completo, de repente se ouve alguns gritos, como os que ocorreriam em qualquer escola estadual com alunos arruaceiros. Cenário perfeito para uma rebelião com duas ótimas reféns para servir como moeda de troca. Assustador o suficiente pra vc? Nem tanto pra mim, que senti receio, mas não medo. No breu, rapidamente criei um plano: se eu me sentisse ameaçada, me esconderia atrás da lousa esperando que eles não cometessem nenhuma violência comigo e a outra professora. Senti um certo receio, mas não medo. O gerador começou a funcionar, dando um certo alívio. Todos continuavam sentados. Em alguns segundos, o gerador falhou, e um novo breu se apresentou, agora à meia-luz de alguns isqueiros.

O gerador voltou e o agente de segurança solitário veio e disse para encerrarmos as aulas e irmos embora, mandando os alunos para suas celas. Ufa! Saímos sem nenhum arranhão.

Depois descobri que a luz havia faltado em toda a cidade, e pela manhã de hoje pude fazer piada. Perguntava pra todo mundo: “Onde vc estava quando faltou luz?” Alguns, no banheiro, outros vendo a novela, alguns ao telefone. Pude dizer me gabando: “Eu e uma outra professora estávamos num pátio com 120 presidiários, a 150 metros e 2 portões trancados de distância de um solitário agente de segurança.

E eu não senti medo.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Vc assiste a “House”?

Raros são os seriados a que tenho paciência de assistir. Sócio-dramas e a produção do Warner em geral nunca me apeteceram. Na década de 90, contudo, acompanhei consistentemente ao seriado “Arquivo X”. Um verdadeiro clássico. Embora acompanhasse alguns seriados tipo Law & Order, nunca o fiz com o entusiasmo que agora me acomete em relação a “House”.

O principal motivo: o personagem do protagonista, que dá nome à série. Sua inteligência afiada, seu humor negro, sua liberdade cruel de expressão, seu desprezo generalizado pelas pessoas, sua falta de educação e de tato, sua teimosia, sua loucura e sua genialidade.

É maravilhoso vê-lo claudicar entre pensamentos distorcidos pela dor crônica e doses maciças de drogas controladas.

House é eficientíssimo, e isso lhe garante o apanágio de ir ao trabalho à hora que quiser, e ir pra casa à hora que quer, bater a porta na cara da sua chefe e sempre fazer insinuações sexuais a respeito dela, tratar sua equipe com a maior rudez e negligência de que é capaz, ser um f-d-p até com seu melhor amigo, o Dr. Wilson. Quem, no fundo, House gostaria de ser.

House não tem vida social, vida familiar, vida sexual. House tem colegas de trabalho, pacientes e uma drogadição tratada de forma muito interessante. Assim, sua vida afetiva, sexual e pq não mesmo familiar acabam ocorrendo dos corredores do hospital, muito bem-enroscados com as histórias dos pacientes. Certa vez, sem seu Vicodin, ele quase cortou ao meio uma menina de 6 anos por causa de uma doença que ela não tinha. Alertado por seu subordinado, deu-lhe um pesado soco a cara, que o derrubou. Culpa de House? Não, culpa do policial igualmente f-d-p que o deixara sem a droga de que ele tanto precisa.

Num mesmo episódio ele é capaz de chamar a um feto de “tumor” e “parasita” e depois numa cena tocante baseada num fato real, ficar sem palavras ou ações diante da diminuta mão que segura a sua como que pedindo para ser reconfortado, ou dizendo: “Eu estou vivo e conto com vc!”. O “feto” vira então um “bebê”.

House é maravilhoso. Os episódios estão repletos de reviravoltas dramáticas quando um novo (e normalmente nojento) sintoma se apresenta. Ele faz vc se identificar com todos: a compaixão de Cameron, o ar perdido de Chase, a ironia de Foreman.

Todo mundo é um pouco House. Só não é um pouco mais pq não tem a eficiência que lhe dá o apanágio de ser cru e verdadeiro. House não precisa medir palavras, pílulas ou ações pq ele sabe que é insusbstituível. Infelizmente, poucos de nós somos...

Algumas frases de House:

Todo mundo mente.

“Até fetos mentem.”

Preciso ir - o prédio está cheio de pessoas doentes. Se correr, talvez consiga evitá-los.

Se você fala com Deus você é religioso; se Deus fala com você, você é esquizofrênico!!!

Eu sou o diretor do departamento de doenças infecciosas, com dupla especialização em doenças infecciosas e nefrologia. Eu também sou o único doutor empregado nesse hospital que é obrigado a estar aqui contra sua vontade. Mas sem preocupações, afinal a maioria de vocês poderia ser tratado por um macaco com um frasco de analgésicos. E por falar nisso, vocês talvez vejam eu tomando comprimidos. É Vicodin, é meu, não é para vocês. E eu não tenho um problema com administração de dor, e sim um problema com dor. Mas quem sabe? Talvez eu esteja errado. Talvez eu esteja doidão demais para saber. Então, quem quer ser atendido por mim?

Fonte: http://desciclopedia.ws/wiki/Dr._House

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Um guia para a vida


Tradução de um site muito interessante. Para quem não sabe inglês, taquí. Acompanhe os desenhos, é divertido.
Primeira Página: http://www.viruscomix.com/things.html

1 - (Clique nas imagens para prosseguir pelos quadrinhos)
Coisas que não nos contam.
(mas deveriam)
Um guia para a vida.

2 – O mundo é um lugar estranho, e nem tudo é o que parece. Há um monte de coisas que as pessoas não querem que vc saiba, e não sabê-las pode fazer a vida ser mais confusa do que tem que ser. Para sua sorte este guia está cheio de informações ultra-secretas para lhe dar limites na vida (e prevenir algumas surpresas desagradáveis)... todas as coisas que eu gostaria de saber quando tinha a sua idade! Vamos dar uma olhada?

3 – Enquanto pessoa, é o que está dentro o que conta. E é o que está do lado de fora o que importa.

4 – O amor é como uma maçã no mercado: olhe todas as que quiser, mas vc nunca encontrará uma que não esteja marcada. Ninguém é perfeito – especialmente vc.

5 – Cada um de nós é apenas um dentre trilhões de organismos dentre trilhões de planetas dentro de trilhões de galáxias, dentro de um universo sem fim e infinitamente espiralando-se, e ainda assim vc encontrará pessoas que se consideram “importantes”. Essas pessoas são conhecidas como “homens” e “mulheres”. Vc pode querer evitá-las.

6 – Quase todos no mundo vêem televisão, e milhões de pessoas estão envolvidos na produção de tv, e ainda assim não há um único programa de tv que mostre a vida real com precisão. Isso condenará vc a uma vida de expectativas destroçadas quando vc já tiver passado cerca de 30% da sua existência assistindo a sitcoms.

7 – Pessoas altas namoram apenas outras pessoas altas, então se calhou de vc ser baixinho, nem olhe pra cima.

8 – Se calhou de vc ser bonito, as pessoas olharão vc com ressentimento pq todo mundo acha que pessoas bonitas se aproveitam disso em seu caminho pela vida e que portanto são um bando de parasitas de mente vazia. Vc não encontrará nenhuma simpatia, pois todo mundo sabe que pessoas bonitas têm vidas perfeitas. Isso resultará numa amarga e solitária existência.

9 – Se calhou de vc ser feio, todos gostarão de vc pq vc tem aparência pior que a deles. Contudo, ninguém amará vc pq vc tem aparência pior que a deles. Isso resultará numa amarga e solitária existência.

10 - Só pq o seu é menor, isso não te faz menos homem. A menos que estejamos falando de seu cérebro.

11 – A maioria das pessoas é um sociopata borderline, que pisaria no seu cadáver para conseguir uma vaga melhor de estacionamento, e ainda assim eles não hesitarão em julgar severamente vc se vc vacilar da mais diminuta, insignificante forma. Sempre.

12 – Dormir cedo e acordar cedo fazem de vc um membro da classe trabalhadora. Pessoas ricas dormem até tarde.

13 – Todo mundo está cheio de maravilhosos conselhos que eles não hesitarão em empurrar pra vc na menor chance que tiverem. Todo mundo está cheio de algo mais, também, então vc pode querer passar o conselho adiante.

14 – Se vc fala muito eles zoarão vc.
Se vc não fala o suficiente eles zoarão vc.
Se vc ri alto demais eles zoarão vc.
Se vc nunca ri eles zoarão vc.
Se vc sorri o tempo todo eles zoarão vc.
Se vc nunca sorri eles zoarão vc.
Se vc for muito bonzinho eles zoarão vc.
Se vc for muito perverso, eles odiarão vc...
mas ao menos eles não zoarão vc.

15 – Há uma enorme diferença entre pensar sobre alguma coisa e efetivamente realizá-la. Tente escolher da forma correta.

16 – Para ser considerado “bem-sucedido”, vc deve escravizar-se para simultaneamente atingir ou exceder as expectativas de todos os que vc eventualmente conhecer ao longo de toda a sua vida, e então constantemente manter uma trajetória ascendente até o dia em que morrer. Para ser considerado “fracassado”, vc deve fazer o oposto (isto é, nada).
Adivinhe o que é mais divertido.

17 – O tamanho do carro é inversamente proporcional ao intelecto do motorista. Compre uma bicicleta.

18 – Se vc dividir igualmente toda a riqueza do mundo, cada um de nós fica com algumas centenas de dólares. Nós temos mais que isso pq os africanos têm cerca de 5 centavos. Ah, mas não se sinta mal... eles vivem a milhares de quilômetros de distância, e vc nunca terá que encontrá-los.

19 – Há mais de 6 bilhões de nós sobre a Terra, então na verdade vc não é único ou especial (mas nós gostamos de vc de qualquer jeito). Se vc quer ser verdadeiramente diferente, vc realmente terá que sair do seu caminho.

20 – A única coisa pior que perder os dentes, enfisema e doenças crônicas é ficar velho. Então, faça bobagens.

21 – O dinheiro é a raiz de todo mal, mas se vc não tiver nenhum dinheiro a sociedade desprezará vc. Quanto menos desse mal vc tiver, menos as pessoas pensarão de vc. Bem-vindo à Terra.

22 – Se vc não gosta da sua casa, vc pode conseguir uma nova.
Se vc não gosta da sua cidade, vc pode se mudar para outra.
Mesmo que vc não goste de seu país, vc pode emigrar para outro quando quiser (normalmente).
Mas se vc não gosta de seu planeta, vc está sem sorte.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A nova Lei Seca. Ou de como ter certeza que seu filho é gay


Alguns pensametos que eu tive hoje:

Muito interessante foi todo o debate a respeito da "nova lei seca" que coibe duramente o envolvimento do consumo de bebidas alcoólicas e a condução de um veículo. A muita divulgação nos telejornais nos mostrou como podemos ou não agir se abordados por um policial munido de um bafômetro.

Se a pessoa é abordada e o policial pede para verificar sua CNH, a pessoa é obrigada a apresentá-la e a provar que é um motorista habilitado, autorizado a conduzir a categoria de veículo na qual está. No caso de recusa, a pessoa pode ser conduzida ao DP, onde será identificada nem que seja aravés do "pianinho". A quem cabe o ônus da prova?

Se uma pessoa é abordada por um policial e convidada a fazer o teste do bafômetro, ela não é obrigada a realizá-lo, pois "ninguém é obrigado a fornecer provas contra si mesmo". Ok. Mas se o policial observar sinais manifestos de que a pessoa está embriagada, ele pode escoltá-la até o IML, onde lhe será solicitado que ela efetue uma coleta de sangue para medição de dosagem alcoólica. De novo, o motorista pode recusar-se a fornecer provas contra si mesmo. Ok. Então, mesmo à sua revelia, será convocado um perito médico do IML que atestará, pelos sinais externos, se a pessoa está de fato embriagada ou não, emitindo um laudo que terá fins de prova para a multa ou possível processo criminal a respeito do episódio.

Tb é meio que um ditado popular, a respeito de como descobrir que seu filho é gay: se fala como pato, anda como pato, e todo mundo lhe diz que ele é pato, com certeza seu filho é pato!

Pergunto a vcs: se fala como pato, anda como fato, todo mundo lhe diz que é um pato, e o suposto pato diz: "Eu não sou um pato! Vc não tem nenhuma prova!"

O que vc faz?

a-) Arma com um detetive particular um flagra na porta do motel.
b-) Se resigna diante das evidências e admite que ele é gay.
c-) Ajuda ele a manter as aparências, finge que não vê, pois afinal, ele é do seu círculo afetivo.
d-) Como vc quer saber a verdade, conversa até esgotar o assunto, afinal a mais dura verdade é melhor do que a mais leve mentira.
e-) Outra (especifique)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Big Bang e Cientologia. Ou “das explicações absurdas”.


Essa semana recomeçaram as aulas. As minhas? Não. As dos meus alunos...

Sentada na mesa com os demais professores, disse em tom de piada: vou começar do começo: minha primeira aula será sobre o Big Bang.

E foi sim. Nesta aula sempre pergunto logo no começo o que os alunos acham e quais explicações já ouviram sobre o surgimento do Universo. O objetivo disso é dar ensejo a uma explanação sobre as diferenças entre ciência e religião, que elas se pronunciam sobre esferas diferentes da existência, que o Big Bang não significa que a Bíblia esteja errada, que os cientistas não se baseiam em “achismos”, mas em observações e estudos aprofundadíssimos, enfim, introduzir uma certa consciência crítica nos alunos a respeito do debate criação x evolução.

Tenho que usar os termos que eles compreendem, e não há exemplo melhor para quebrar a literalidade bíblica que o segundo relato da criação do homem, aquele que diz que o homem foi modelado do barro (Gn 2:7). Digo: Ora, sabemos que esse trecho não é literal, pois não somos feitos de barro, e não é lama que corre em nossas veias. Somos feitos de carne, e em nossas veias corre sangue. A Bíblia está “mentindo”? Não. Ela usa uma linguagem parecida com a poesia para explicar como os homens da época de Moisés compreendiam a forma como o homem foi criado.

Muito bem, me parece que eles compreenderam a mensagem de alguma forma. Mas antes dessa digressão eu estava no momento em que pergunto aos alunos como eles acham que o Universo foi criado.

Normalmente escuto apenas: “Ah, o Universo foi criado por Deus em sete dias” ou “Ah, teve uma explosão que deu origem a tudo”. Mas dessa vez ouvi algo mais. Um menino disse em tom jocoso: “Ah, eu acho que foram os ET’s que criaram a Terra.”

Até pensei em rir, mas meu cérebro foi mais rápido e me impediu. Tom Cruise e John Travolta começaram a espocar em minha mente em algum filme inexistente que eu acabara de inventar.

Eu não ri, e pelo contrário até disse: “È, quem sabe não foi assim?”

Lembrei-me da cientologia. Pra quem não conhece, a cientologia prega algo parecido com o que surgira espontaneamente na mente engraçadinha do meu aluno: foram alienígenas os responsáveis por isso tudo. Vejam só que matéria superinteressante :D

http://super.abril.com.br/revista/254/materia_revista_285219.shtml

Hehehe, mesmo para o espiritismo seríamos todos exilados de Capela... Coisas da vida...

Em determinado ponto da aula, referi-me à recente descoberta pela NASA de água (ou gelo, não lembro) em Marte. Muito legal. Assim, seria mais possível criarmos uma colônia humana lá. Disse a meus alunos que toda a vida na Terra é baseada na água, e que por exemplo um ser humano não sobrevive em média mais de 3 dias sem ingerir água. Isso não levantou mais comentários até que bem no finalzinho da aula o aluno-bonzinho padrão (é, até na FEBEM tem...) me chama e me pergunta baixinho: Mas, professora, se um ser humano agüenta só 3 dias sem água, como é que Jesus passou 40 dias no deserto sem beber nem comer?”

:o

Boa pergunta, Felipe.

Ah, mas aí foi milagre... :)

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

TLMKT. Ou “do Telemarketing”


Um aspecto pouco conhecido ou relevante de minha biografia é que eu sou uma operadora de telemarketing certificada.

Pois é, até eu.

Na flor de meus 16 anos passei seis meses de minha vida indo todo sábado de manhã à E.T.E Martin Luther King onde um tal de NEA (Núcleo de Estudos Administrativos) oferecia o curso. Blzinha. Perdi seis meses da minha vida descobrindo como, em uma ligação telefônica de 3 minutos, eu descobriria o que motiva psicologicamente a vítima de meu contato, objetivando vender-lhe alguma buginganga, serviço desnecessário ou vantagem aparente.

E cheguei inclusive a trabalhar no ramo. Sim, durante longas 3 semanas eu fui contratada (no período de experiência, obviamente sem salário, apenas ganhando comissão) por uma empresa terceirizada para vender assinaturas da Folha de São Paulo. Não tenho absolutamente nada contra o jornal, sempre gostei de lê-lo. Nem contra a propaganda em si.

Ora, se eu ligo a televisão, estarei abrindo uma janela autorizando-a a me oferecer todo tipo de bugiganga, serviço desnecessário ou vantagem aparente. Mas não no meu telefone residencial. Ele é para uso pessoal, e não para eu ser incomodada a todo instante (a Telefônica me liga oferecendo o Speed pelo menos uma vez por semana, é uma tortura...) por propagandas.

Lembro-me como se fosse hoje do texto-base que eu tinha que dizer: “Alô. Poderia falar com o responsável pela linha telefônica? Boa tarde, meu nome é Alice [já tinha uma Fernanda lá]. Estamos iniciando uma campanha cultural no seu bairro... blá, blá, blá.” Ate que enfim era revelado que eu tencionava vender-lhe uma assinatura de jornal. O Método de selecionamento dos alvos da “campanha cultural”? Aí é que entra o melhor da história. Me davam um prefixo. Por exemplo, 3091. Me mandavam ligar do 3091-0000 até o 3191-9999. Quando e se acabasse, me dariam outro prefixo.

Genial!

Ao final de 3 semanas pulei fora dessa furada. Qual foi o pagamento de minhas comissões por este período?

Quarenta e cinco reais.

Sim. Eu trabalhei 6 horas por dia, por 3 semanas por R$45,00.

Isso não costumava ser ilegal?

Mas tudo bem. Nesse mundo aprendemos a ser ludibriados e sofrermos pequenos golpes desde cedo.

Isso me veio à lembrança pq ontem, olhando os classificados, vi um anúncio que a princípio me interessou. Operador de Telemarketing. Acima de 25 anos. Conhecimentos de Informática. 6 horas/dia, R$700,00/mês. Legal. Estou precisando de dinheiro mesmo e tenho um baita tempo livre. Não deu outra, fui lá.

Estava escrito no letreiro da empresa “Eurodata”.

Suei frio.

Eu odeio a Eurodata. Quer dizer, eu não odeio, não tenho nada contra a empresa. O que não consigo me conformar é com, vamos usar um eufemismo, as táticas agressivas de marketing de empresas das quais a Eurodata é um exemplo-padrão.

Mocinhas de 16 anos, boné, camiseta da “firma”, prancheta na mão, se aproximam de vc e perguntam com um sorriso: “Vc gostaria de responder a uma pesquisa?” ou “Vc estaria interessando em ganhar um brinde?”

Quem ainda não foi abordado pela Eurodata ou outra empresa da mesma forma que pare de ler o texto, pois vc tem a sorte de ainda não ser sido infernizado com a publicidade 171 que é mainstream em nossos dias.

Não, minha querida, eu não quero responder a pesquisa nenhuma. Nem preciso de nenhum brinde, muito obrigada.

De volta à frente da Eurodata, dei uma volta, entrei numa papelaria, ponderando se entregava o currículo ou não. Pensei comigo: Ah, não custa nada entregar, né, quem sabe? Respirei fundo e fui lá. Preenchi ficha. Me pediram pra esperar pela entrevista. Aí é que entra outra coisinha curiosa que só pessoas com mente aquilina conseguem captar. Numa parede, um cartaz divulgando o curso de Telemarketing fornecido pela própria Eurodata.

Atinei cá eu: Pq uma empresa que oferece um curso de telemarketing colocaria um anúncio no jornal procurando por um operador de telemarketing?

De duas uma, ou ambas: ou eles não confiam nos próprios operadores de telemarketing que formam ou era golpe. Golpe? Me dariam um emprego, mas seriam 3 meses de experiência sem salário, e ainda tendo que comprar uns 15 cursos diferentes da empresa. Entre os quais um curso de conteúdo insuspeito de “marketing pessoal”. O nome me deixou curiosa. :D

Fosse como fosse, eu não tava a fim de me enfiar naquela furada. Dei uma desculpa pra recepcionista de que meu carro tava na zona azul e eu ia mudar ele de lugar e dei um jeito de pular fora.

Sabem, conforme a gente vai ficando meio velho a gente perde a tolerância de aceitar ser passado pra trás.

Pequeno manual de como se livrar das operadoras de telemarketing?

Diga simplesmente: eu já tenho. Eles não sabem se vc já tem ou não o que eles oferecem, eles são terceirizados e muito mal-pagos. Não perca o tempo deles nem o seu tentando argumentar ou ficando bravo: diga simplesmente que vc já tem Speed, já faz todos os cursos da Eurodata, já assina a Folha de São Paulo.

É a única coisa que quebra qualquer argumento do TLMKT.

E que tenhamos sorte de não usarem nosso prefixo!

quinta-feira, 6 de março de 2008

Eu

Justo eu,tão certa de ser eu mesma
Agora não mais me sinto tão segura
Que não serei incluída na resma
E olho-me com tal candura

Vejo o rosto desfigurado
Que já não me é atribuído
Com tal olho marejado
Lá não me vejo reconhecido

Vejo, mas não mais me conheço
Antecede, ainda que similar
Mesmo, mas em muito difere
E neste desatino adormeço
E com minha (ou será tua) própria língua fere
Não mais minha personalidade
Neste rosto poderei encontrar
E a minha própria identidade
Com ele veio a se misturar

Eu, tão segura de ser, de si
Vejo-me em pranto teu
Espelhando as lágrimas de Orfeu
A desdita do jovem Romeu
De dar-me a chave ele esqueceu

Rosto tão belo quanto Deus me deu
Não mais me reconheço no meu
Não mais segura de que eu mesma seja o eu.

(1998)

segunda-feira, 3 de março de 2008

Açores

Esquecendo a mim mesma
Procurando a verdade escondida
Nos cantos escuros esquecida
Um pouco de realidade vertida
Sobre o chão de terra batida
Pelos pés do escravos ainda em vida
Acordando quando mal o dia rompia

Procurando a mim mesma
Entre meus poemas e meus amores
Minhas felicidades e minhas dores
Meus amantes e meus senhores
Minhas inspirações e meus licores
Perdida no arquipélago de Açores

Encontrando a mim mesma
Nos segredos escondidos do passado
Tentando entender o que não foi perdoado
Segurando meu coração quebrantado
Dizendo o que nunca foi falado
Achando o que nunca foi encontrado
Lembrando o que nunca foi retratado
Procurando os sentidos e as respostas calados

Vendo minha alma se contorcer na dor infinda
Da dúvida se posso em encontrar ainda
Fitando a aurora boreal
Tentando diferenciar a fantasia do real.

sábado, 1 de março de 2008

Alive

The blood still passes along in my veins
But it's almost gone
By the slice we've made on ...

...My heart is still beating
But wait and you'll see it stopping
My brain is still working
But soon it'll be burning

My name will no longer be aforesaid
Nobody will ask how was my day
My body will get hard'n'cold
So, be brave 'cause you won't
See me getting old
There will be no more pain
'Cause it'll be the end of the game

My lips no more words will say
And my legs won't walk away
Some might cry, but I'll be okay.

(1998)
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