terça-feira, 30 de agosto de 2011

O flagrante que nunca foi

Em texto anterior relatei um flagrante que dei numa “chifrada” que levei. Como a história repete-se como farsa, há um episódio complementar a este no qual o que flagrei a me chifrar na outra ocasião achou ter surpreendido desta vez a mim em adultério. Mas ele estava enganado.

Nem tudo o que parece é. Frequentemente nossos olhos e as situações nos enganam.

Namorávamos já há mais de 2 anos a esta altura. Eu principiava minha vida adulta e acabara de montar meu primeiro apartamento, só meu. Era um apartamento de um quarto no edifício “Viadutos” do arquiteto icônico Artaxo Jurado. Este prédio é cognominado “Bolo de Noiva” por seu salão de festas, no 38º andar assemelhar-se a um chapéu, um bolo em camadas ou uma nave espacial pousada sobre o prédio. Situa-se à Praça General Craveiro Lopes, na Bela Vista (ou Bixiga), em frente à Câmara Municipal de Vereadores de SP capital, entre os viadutos 9 de Julho, Jacareí e Maria Paula, bem próximo à Federação Espírita Brasileira e da Praça da República.

Morei 2 anos neste prédio no apartamento 1513, ao décimo quinto andar. Da minha janela via as costas do Copan, toda a silhueta dos prédios do Centro de São Paulo e, um pouco mais longe, as antenas da Avenida Paulista. Nesta que foi minha primeira casinha fiz questão de receber meus amigos não só da faculdade como também dos tempos do colégio. Agora eu era adulta e podia dar minhas festinhas com os amigos sem preocupação com o horário. E, morando no centro podíamos sair à noite e tínhamos um lugar seguro para onde voltar nas madrugadas.

Meu namorado desde os 17 anos, J, sempre trabalhou muito, ziguezagueando pela cidade nos 3 períodos do dia. Para ele, que ate então morava quase em Osasco, ter um ponto de parada, descanso e pernoite no centro foi providencial. Embora ele não tenha se mudado “de mala e cuia” para meu apartamento, dormia lá pelo menos 5 noites da semana. Para fins práticos, morávamos juntos.

Apesar de ele ser muito mais velho do que eu, nunca estabelecemos uma relação de subordinação, mas de aliança, auxílio mútuo e cumplicidade intelectual. Nunca estabelecemos uma dinâmica de “casados”, mas de namorados, e nunca autorizei que ele me tolhesse em nenhum aspecto de minha juventude, amizades, saídas noturnas ou viagens. Como ele não contribuía financeiramente no sustento do apartamento, aquela sempre foi a minha casa, na qual ele era hóspede. E, portanto, não tinha liberdade para ditar regras. E, me conhecendo, jamais tentou cruzar o limite de minha auto-determinação.

Certa manhã eu havia convidado um amigo dos tempos do cursinho, R, de quem J tinha muito ciúme pois R já se declarara, coisa de 2 anos antes, apaixonado por mim. Na ocasião eu já namorava J e, portanto, o relacionamento com R não se realizou. Mas continuamos amigos, inclusive trabalhamos juntos por mais de 1 ano durante meus 18 anos, até eu entrar na faculdade, largar o emprego e me mudar do Tatuapé. Depois disso nossos caminhos se afastaram, mas o continuei tendo em alta estima, com é fato até hoje.

Nesta certa manhã eu havia combinado de ele dar uma passada na minha casa para conhecer meu apê de “universitária adulta” antes de pegar no batente na loja de grife em que trabalhava no Shopping Center Norte. Por algum motivo, esquecimento, desencontro, simples vontade de me furtar a um dissabor desnecessário, ou falta de vontade de “dar satisfações da minha vida”, não contei ao J sobre a visita que receberia.

R veio e fizemos um brunch. Contei-lhe sobre minhas aventuras na USP, os novos amigos, as baladas. Ele me contou sobre seu novo emprego, sua namoradinha japonesa, suas aventuras em sua adultez por construir. Foi uma manhã muito agradável. Caso tivéssemos feito algo além de conversar como bons amigos eu não teria nenhum problema em admiti-lo hoje, mais de 8 anos depois. Porém não foi o caso. Aproximando-se o meio dia, hora em que ele e eu teríamos que ir para nossos destinos, deixei-o na sala enquanto fui ao banheiro me arrumar. Umedeci meu cabelo e comecei a penteá-lo quando ouvi a chave girando na porta.

No intervalo temporal dos 3 passos que demorei para chegar à sala, encontrei J com uma expressão feroz de onça na tocaia medindo R de alto a baixo. Olhou para mim, com o cabelo molhado e o pente na mão com uma expressão pungente de certeza. Certeza de que acabara de me “pegar no pulo”, em flagrante a lhe dar um chifre. Momento perfeito para a frase-clichê dos adúlteros:

- Não é nada disso que você está pensando.

Não era nada daquilo que ele estava pensando, mas o clichê não foi usado. Sem que ninguém dissesse nada, J virou as costas e começou a ir embora. Eu não o deixaria ir tendo certeza de algo que era falso. Eu não perderia o então amor de minha vida por uma acusação não pronunciada da qual era inocente.

- J, que é isso? Estávamos também de saída. Ele só veio me fazer uma visita!

Do hall J me lançou um olhar de adaga cigana, nada disse e simplesmente apertou o botão para chamar o elevador. Olhei para R como a pedir ajuda, mas que poderia ele fazer? Dizer: “Olha, J, eu não comi sua namorada, viu?”

Peguei minha bolsa, minha chave e com um gesto intimei R a sair comigo. Por sorte o elevador acabara de chegar enquanto eu terminava de girar a chave na porta. J entrou mudo, e depois eu e R. 3 pessoas que totalizavam em altura 5 metros e meio e 273 quilos num espaço de 2 metros quadrados em meio a uma situação constrangededoríssima. Descemos os 15 andares no mais cortante silêncio. Quando a porta se abriu J saiu resoluto com seus passos de mais de metro e meio. Pela sua postura percebi que seu intento era ir para nunca mais voltar. Corri atrás dele, e R alguns passos atrás, meio sem saber o que fazer. Quase a alcançar J, dizia-lhe enquanto ele se furtava em velocidade:

- Vamos conversar!... Pô, você sabe que ele é meu amigo!... Não aconteceu nada demais!...

Ele ia fugindo enquanto eu corria e tentava alcançá-lo com minha voz e meus argumentos. Ele indo mais rápido, eu lutando para vencer a multidão da rua Xavier de Toledo, no sentido Teatro Municipal. Como J continuava a acelerar, olhei rapidamente para trás e vi R já muitos passos atrás. Sem nada dizer, olhei-o com a expressão que dizia tudo:

- Desculpe o fim acidentado desse encontro e eu não poder me despedir direito de vc, mas ele é meu namorado e não posso deixar que ele vá embora assim, achando que deu flagrante num adultério que não foi!

Acho que ele compreendeu, pois se perdeu na multidão, tomando seu rumo em direção ao metrô. Corri para alcançar J, peguei em seu braço com delicadeza e disse:

- J, me ofende que vc ache que eu fico “recebendo homens” em casa na sua ausência. Acredite em mim por tudo que já passamos juntos. Não aconteceu nada!

Ele não respondeu, se afastou de mim dando passos para trás, virou as costas e seguiu seu caminho, se perdendo na multidão que cruzava o viaduto do chá. Pelo dia inteiro senti-me morrer achando que nunca mais veria meu amado J. E mais doloroso foi o sentimento de que eu era vítima de uma injustiça. Que minha honradez estava sendo posta em dúvida por quem eu achava ser meu maior aliado na vida.

Ao final da noite, contorcendo-me em cólicas na dúvida se ele viria para dormir em casa, comigo, ou não. Meia hora depois do tempo costumeiro ele chegou. Corri e o abracei. Disse:

- Vamos conversar?

Ele me olhou como uma criança que acabou de apanhar olha para a mãe que larga o chinelo e o coloca no pé. Atalhou:

- Não quero falar sobre isso. Vamos colocar uma pedra sobre este assunto. Estou cansado. Vou dormir.

Para agradá-lo eu havia preparado uma comidinha gostosa. O servi. Ele comeu rapidamente. Eu tentei mais algumas vezes explicar o ocorrido da manhã, enquanto ele me cortava. Por fim, achei melhor deixar como estava, afinal, ele voltara para casa.

Até hoje não sei se ele acreditou em minha fidelidade e inocência neste episódio ou se ele guardou dentro de si a dúvida/certeza de ter sido traído, preferindo “passar ao largo do assunto”, relevar por conveniência ou amor por mim. Nem que tipo de impressão R guardou deste episódio.

Talvez a partir deste texto alguns closures sejam atingidos e dúvidas sanadas. Ou talvez isso seja pedir um pouco demais da vida: que tudo se acerte e os mal-resolvidos encontrem seu desfecho.

Jota Quest – Mais uma vez

Pitty – Equalise

Matchbox 20 - Push

The Strokes - Under cover of darkness

sábado, 27 de agosto de 2011

Bolinho de Chuva

Clássico paulista com gosto de infância. Embora seja uma fritura altamente engordativa, vale a pena fazer de vez em quando para não perdermos a deliciosa ligação com nossas avós fazendo um doce tão simples para alegrar nossas reuniões com os amigos.

Quando vc for pego de surpresa com visitas inesperadas e não tem nada para oferecer de petisco, para acompanhar o café ou o chá da tarde, essa é uma ótima opção de preparo rápido e ingredientes simples, presentes em todos os lares. E que tem certo ar retrô.

Ingredientes para a massa:

1 ovo

3 colheres de sopa de açúcar + 1 xícara (para a cobertura)

1 xícara de chá de farinha de trigo

½ xícara de chá de leite

1 colher de sopa de fermento em pó químico

Óleo para fritar

Canela a gosto (para a cobertura)

Modo de fazer:

1- Com um garfo, bata o ovo com o açúcar em uma tigela. Aos poucos, enquanto mexe, adicione porções de farinha de trigo e leite até dissolverem-se. Por último adicione o fermento. Misture bem.

2- Aqueça o óleo. Com uma colher, pingue com cuidado pequenas porções (colheradas) da massa no óleo. Não se preocupe com o formato, os bolinhos ficam irregulares mesmo. Apenas não despeje colheradas muito fartas, pois o bolinho pode ficar cru por dentro. Vire-os com uma escumadeira para dourar por igual. Retire-os e coloque-os para escorrer sobre papel absorvente.

Cobertura:

Em um prato, peneire 1 xícara de chá de açúcar com 2 colheres de sopa de canela. Submerja os bolinhos ainda quentes nessa mistura. Servidos quentes são ainda mais apetitosos.

Variações:

É possível adicionar à massa 1 colher de sopa de ervas para chá, como hortelã, capim cidreira e erva doce para aromatizar e dar um toque especial aos bolinhos.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Receita de Homus Tahine

Este patê de grão-de-bico é muito prático e versátil. Se for impossível encontrar o tahine (pasta de gergelim) procure colocar óleo de gergelim, disponível na seção de comida japonesa.

Soube que é possível fazer homus com grão de bico em conserva porém a recomendação é sempre fazer da forma clássica. Ou não.

Costumo degustar o homus com azeite extra, usando folhas de hortelã, fatias de pão pitta, fatias desfolhadas de cebola e até sticks de pimentão.

INGREDIENTES:

500g de grão-de-bico
4 colheres de sopa de tahine (pasta de gergelim)
2 colheres de sopa de suco de limão siciliano fresco
2 dentes de alho picadinhos
sal e pimenta-do-reino, moí­da na hora, a gosto
3/4 de xí­cara (180ml) de água
2 colheres de sopa de azeite extravirgem

PREPARO:

Deixe o grão-de-bico de molho em uma vasilha grande durante a noite. Lave bem e cozinhe em fogo brando por aproximadamente 50 minutos ou até ficar macio. Coloque o grão-de-bico, o tahine, o suco de limão, o alho, o sal e a pimenta no liquidificador ou processador e triture bem. Adicione água suficiente para obter uma pasta cremosa e homogênea. Decore com salsa, alguns grãos e regue com azeite.

fonte

sábado, 20 de agosto de 2011

Da força histérica. Ou da última vez que entrei em luta corporal


Quando, leitor, foi a última vez que vc entrou em luta corporal?

Arrisco-me que a dizer que a ser homem o leitor ele pensará “Há alguns meses” e a ser mulher, pensará “Há alguns anos”. De certa forma a disputa é injusta, pois o organismo masculino bomba testosterona em quantidades muito superiores ao organismo feminino, propiciando-os a reações violentas. Agradeço a Deus por ser mulher e não ter minha disposição psicológica viciada por hormônios que me tornem propensa à violência. Inclusive, em meu último hemograma, o nível de testosterona estava abaixo da média até para as mulheres, e creio que isso seja parcialmente responsável por algo de minha “placidez”. Será que somos apenas títeres de nossos hormônios? Talvez, e não somente.

Um chimpanzé de 50 kgs tem 5 vezes a força de um humano de 50 quilos. Para além das diferenças musculares entres as espécies, soube recentemente por um documentário na TV a cabo que seres humanos têm latente e inexplorada força muscular semelhante a de nossos primos-irmãos símios. Porém humanos têm mais desenvolvido que os chimpanzés o córtex frontal, a sede da razão, que nos humanos limita o acionamento das fibras musculares. Somos mais fortes do que nos achamos.

Essa capacidade muscular latente não pode ser acessada intencionalmente, apenas em situações em que a atividade do córtex frontal é cerceada por estímulos mais poderosos que os da razão. Como o instinto de preservação da espécie. Portanto esta força “extra” dorminhoca é colocada em ação em situações que fogem à “normalidade”. O nome disso é “força histérica”, acionada quando a razão é suprimida e o instinto aflora.

Leitor, vc é capaz de, sozinho, suspender e mover um carro que pesa mais de 1 tonelada? Creio que mesmo os halterofilistas dirão que não. Pois é, leitor, vc é capaz. Dependendo de quem é vc e de quem está debaixo do carro. Se vc estiver completamente histérico, vc conseguirá. Se vc como transeunte ver um desconhecido ser atropelado e gemer embaixo de um carro, vc não conseguirá fazer nada por ele. Já se a pessoa embaixo do carro for seu filho, aposto e ganho, mesmo a mais mignonzinha das mães, é capaz de levantar mais de uma tonelada ao acionar plenamente sua força histérica, que ela nem sabe que tem. No programa televisivo citado mostraram 3 casos de parentes e amigos que diante de acidentes moveram, sozinhos, veículos automotores para livrar pessoas de sua estima de um perigo iminente de vida.

Assistir ao programa fez-me pensar sobre se algum dia eu acionei minha força histérica. E cheguei à conclusão de que sim, há 20 anos. Na última vez em que entrei em luta corporal com alguém. Esta não foi a derradeira vez em que fui ameaçada de ser agredida fisicamente, mas foi a última situação de perigo físico a qual não pude me furtar de levar ao cabo.

Eu tinha 9 anos.

(Creio que o número é auto-evidente...)

Estava na terceira série na Escola Estadual Jackson de Figueiredo, na rua Itapura, a menos de 100 metros da vila operária do Tatuapé na qual eu residia, à pensão de Dona Rosa Ross da Silva. Naquele dia eu fui à escola com a tiara mais linda que eu tinha, branca, com rendinhas e uma bonequinha em cima. Eu amava a minha tiara. Durante o intervalo um menino da minha sala, sob pretexto de estar brincando, arrancou a tiara da minha cabeça e começou a me gozar.

Eu tinha 9 anos e meus brios virginais se exaltaram como só alguém que não tem o rabo preso com nada nem com ninguém pode se pavonear. Já com a cara vermelha, corri atrás dele pelo pátio berrando:

- Devolve meu arquinho AGORA!!!!

Demos algumas voltas, ele rindo-se, eu urrando de raiva. Era minha tiara mais preciosa. Num canto ele parou, e eu em frente a ele. Disse num tom de deboche pelo fato de eu ser menina:

- Vc quer seu arquinho? Vem pegar! Quero ver conseguir!

Aí ele me ofendeu. Para além de desdenhar de mim como sua colega, ele estava a tripudiar de minha condição feminina! Avancei um passo em sua direção e ele, achando que com isso romperia meu intento e me poria a chorar, segurou o arquinho entre as duas mãos e Ták!, o quebrou ao meio. Tanto ele quanto eu desconhecíamos a existência da força histérica. Ele a descobriu dolorosamente, e eu com espanto.

Arquinho quebrado, no átimo seguinte lhe dei um soco no peito com uma força que eu não sabia ser capaz e meio instante depois apliquei-lhe uma rasteira nas pernas com uma destreza que eu não sabia ter. Ele caiu pra trás e sua cabeça fez um barulho seco ao atingir o chão. Por meio segundo temi tê-lo matado. Mas rapidamente ele começou a chorar como uma menina. Como eu, sendo menina, jamais chorei em público. Portanto, retifico: ele não chorou como uma menina, chorou como uma bichinha. Com todo o respeito aos homossexuais. :)

Lembro-me ainda hoje com prazer da sensação de arrancar meu arquinho, mesmo quebrado, de suas mãos, enquanto ele se debulhava em lágrimas. E de como caminhei altiva para o grupo de minhas amigas e de como elas passaram a me respeitar muito mais depois de eu demonstrar ser capaz de fisicamente me impor contra um menino, tê-lo posto para chorar e dado-lhe uma bela lição.

Neste dia voltei pra casa com meu mais lindo arquinho de cabelo quebrado. Mas com a sensação triunfante de saber que menino nenhum era páreo para mim. E com a certeza de que eu jamais me deixaria subjugar fisicamente por um homem.

Este coleguinha foi o último homem a se impor fisicamente contra mim. Nunca fui atrás de namorados que se dessem ao desplante de cogitar me agredir. Talvez isso seja devido à auto-confiança que este episódio infantil me garantiu. Ou à minha falta de vocação para mulher de malandro, daquelas que saem engravidando em seqüência.

Este episódio demonstrou-me que eu, com a minha coragem, sou páreo para qualquer desafio. Mesmo que num primeiro momento tal pareça fisicamente impossível. E de como era delicioso o gosto de ser respeitada, e até temida, pelos demais.

sábado, 13 de agosto de 2011

É impossível ser ritualmente puro em vernáculo



Há alguns anos compreendi que minha mente processa as informações diferentemente dos demais. Tal é tão difícil de externar quanto tentar descrever a diferença entre o “groselha”, o “grená” e o “madressilva” a um homem, para quem todos estes matizes resumem-se ao “vinho”.

Aos poucos venho compreendendo como nossa experiência do “real” assemelha-se a uma interface gráfica, que nasce desconfigurada, ou com erros de processamento, em alguns. Aos poucos venho percebendo os processos em “stand by”, como gadgets latentes, cujo acervo cada um tem individualizado, em HD’s com diferentes processadores, versatilidade e rapidez.

Mas o mote deste texto é outro. Seu intróito apenas se justifica para explicar de que forma curiosa cheguei à conclusão de que é impossível ser ritualmente puro vivendo em vernáculo. E por “vernáculo” compreenda-se qquer outra língua que não o hebraico.

Estava eu, inadvertidamente, assistindo no National Geographic Channel, a um documentário sobre a “Onda Revolucionária” que varreu o mundo árabe em 2011. Um ancião, provavelmente sacerdote da religião islâmica, prestava, em árabe, declarações sobre o que pensava do movimento. Quando, sem esperar, decifrei algo do que ele falava, completamente sem aviso:

- ...Twenty Fifth of January...

Imediatamente espocaram-me 2 coisas na mente, sem que eu o esperasse: a imagem de um deus com duas faces e o mandamento da Torah de que não podemos pronunciar nomes de falsos deuses.

Como não entendo árabe, me perguntei: pq ele falara em inglês? Pq ele usara o calendário ocidental em sua referência de data e não o calendário árabe? Haveria no Corão uma interdição semelhante à presente em Êxodo 23:13?

Um judeu extremamente zeloso poderia, com toda razão, recusar-se a pronunciar praticamente todos os nomes dos meses do ano e todos os nomes dos dias da semana, pois nas mais variadas línguas ocidentais, nossas referências calendáricas são, determinantemente, referentes a deuses romanos, ou a romanos endeusados, como Janos, Marte, Juno, Júlio César, Otávio Augusto e assim por diante.

E como imagino que seria impossível viver sem jamais pronunciar, mesmo que inadvertidamente, referências calendáricas em nosso cotidiano, fica a conclusão óbvia: todo aquele que pronuncia o nome de meses como janeiro, março, junho, julho e agosto está a invocar deuses idólatras, a pronunciar seus nomes e, portanto, a violar o mandamento da Torah que nos proíbe pronunciar o nome de outros deuses.

Portanto, é impossível ser ritualmente puro falando qquer língua que não o hebraico. E mesmo com ele há de se ter cuidado e pesquisar a raiz de cada termo.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

De como Irene adentrou ao Céu

“Irene no Céu” – Manuel Bandeira

Irene preta

Irene boa

Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no Céu:

-Licença, meu branco!

E São Pedro bonachão:

-Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.


Irene in Heaven” – Manuel Bandeira (minha tradução para o inglês)


Black Irene

Good Irene

Irene always in good mood.

I imagine Irene getting into Heaven:

-Excuse me, my (fellow) white (dude)!

And good-natured Saint Peter:

-Come in, Irene. You don’t need to ask (for) excuse.


Essa belíssima poesia de Manuel Bandeira externa como a língua determina e delimita nossos conceitos a partir dos subtextos e múltiplos significados que cada palavra guarda. Embora tal possa ser descrito em vários textos, escolhi este por sua brevidade e fácil compreensão.

Este texto nos mostra como, numa mesma frase, uma língua diz uma coisa enquanto outra descortina significados divergentes, com outras implicações. Alguém que leia tal poema apenas em sua tradução inglesa não compreenderá exatamente o que Manuel Bandeira quis dizer. E isso tem implicações teológicas.

O cerne é a diferença semântica entre o português “pedir licença” e o inglês “to ask for excuse”, que embora equivalentes numa tradução, estão longe de significar plenamente a mesma coisa.

Quando, em português, Irene pede “licença” compreendemos que ela está “pro forma”, por educação, solicitando permissão, solicitando permisspenamente a mesma coisa.as implicaço para adentrar num recinto enquanto já está entando. Irene solicita autorização. Em espanhol, seu "permeso" é equivalente ao português.

Em inglês o "excuse me", embora seja equivalente ao português para "Solicitar permissão para adentrar num recinto", também traz outro significado: o pedido de perdão, desculpas.

Ao adentrar ao Céu, em inglês, Irene não pede apenas permissão, pede perdão. O que, para entrar no Céu, traz todo um significado teológico ausente no português.

Em português, não podemos inferir nenhum sentido de culpa, arrependimento ou pedido de perdão no "licença" de Irene, mas no seu "excuse me" inferimos toda uma gama de significados de passividade, arrependimento e culpa ausentes no português.

Tanto licença como excuse formam verbos. Em português, "licenciar" é análogo ao inglês "to license". Eu licencio meu carro todo ano, ao pagar os impostos necessários para ser autorizada por rodar como ele pelas ruas. O "Licenciamento" anual é obrigatório para todos os carros brasileiros. "Licenciar" também é equivalente ao adquirir os copyrights de uma obra.

Em inglês "to excuse" significa "perdoar", justificar, excusar. Nada análogo ao português "licenciar".

Em português, São Pedro diz que Irene não precisa pedir permissão. Em inglês, São Pedro diz que Irene não precisa pedir desculpas. Portanto, a língua determina e delimita nossos conceitos a partir dos subtextos e múltiplos significados de cada palavra guarda, em cada língua.

Tradutore est traditore - O tradutor é traidor

P.S.: Se algum dia este próprio texto for traído, ops, traduzido, talvez seu titulo seja "About How Irene Came into Heaven" e alguém compreenda um subtexto sacrílego e ria-se sobre o que signifca o "to come" de Irene. :D


Irene never even needed to knock on heaven's door...

Guns n' Roses - Knocking on heaven's door

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Bolo de cenoura da vovó

Um clássico paulista muito simples de fazer

Ingredientes:

4 cenouras médias fatiadas grosseiramente
4 ovos
2 xícaras de chá de farinha de trigo
1 xícara de chá de óleo
2 xícaras de chá de açúcar
1 colher de sobremesa de fermento químico em pó

Modo de fazer:

Unte e enfarinhe 1 fôrma de bolo. Pré-aqueça o forno por 5 minutos.
Bata todos os ingredientes no liquidificador até obter uma massa lisa. Despeje na fôrma.
Leve ao forno médio por aproximadamente 30 minutos.
Para saber se está bom, espete um palito de dente que, se sair limpo, indica que o bolo já está assado.

Sugestão de cobertura:

4 colheres de sopa de leite
4 colheres de sopa de açúcar
2 coheres de sopa de manteiga
2 colheres de sopa de chocolate em pó

Leve estes ingrediente numa panela ao fogo brando, mexendo até obter consistência cremosa. Despeje sobre o bolo.
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