segunda-feira, 30 de abril de 2012

O que faz um video virar viral

Quem testemunhou o transcorrer do bidecênio 1990-2000 viu uma transformação elementar surgir na "cultura pop": a disseminação dos "vídeos virais".

Nos idos dos 1990 víamos esses videozinhos na televisão, nas famosas "Cassetadas do Faustão", instantâneos anônimos, internacionais, vendidos por seus autores aos canais de TV. Fora do Brasil, há ainda inúmeros programas nesse estilo, me limito a citar os "Vídeos Divertidos do Animal Planet", cujo acervo ainda é composto por arquivos enviados pelos telespectadores. Quem manda um vídeo para esses programas é pago, em prêmios ou dinheiro.

A partir da popularização do Youtube nos anos 2000, a dinâmica de divulgação destes vídeos "caseiros" foi radicalmente alterada, e surgiram as expressões "meme" e "viral" para se referir a estas obras q, inadvertidamente, despretensiosamente, "bombam" na internet; sem q este "sucesso" fosse previsto por seus protagonistas ou videomakers.

A diferença essencial entre os 1990 e os 2000 neste quesito é a mediação jornalística. Nos 1990 o q assistíamos passava pelo crivo e seleção das equipes de produtores dos programas de TV. Depois do advento do Youtube, especialmente após sua aquisição pelo Google, os vídeos viram hit sem nenhuma mediação ou seleção de "profissionais da comunicação".

Outra diferença secundária: o tempo. Nos 1990 ríamos de vídeos com muitos anos de gravados. E às vezes era melancólico perceber num vídeo com mais de 10 anos de filmado q o cachorro ou gato q protagonizava atos hilários já estava a esta altura morto... Hj isso não mais acontece. O "viral" sempre é radicalmente recente, de ontem.

Vídeos verdadeiramente virais são, literalmente, assistidos por "todos", isto é, todo o público ativo e "plugado na net". Podem não alcançar um bilhão de views, mas pelo menos 100 milhões devem atingir; e devem ser lembrados num piscar de olhos.

Pensando no público q lerá este texto daqui a muitos anos, faço a seguir uma brevíssima seleção de vídeos virais atuais q foram assistidos por "todo o público da internet" para exemplificar o q faz um vídeo fazer sucesso no Youtube. Todos lembrados num átimo, sem esforço, por esta blogueira.

David after dentist - http://www.youtube.com/watch?v=txqiwrbYGrs
Baby Bob Marley - http://www.youtube.com/watch?v=McuLdjL2hh8
Charlie bit my finger - http://www.youtube.com/watch?v=_OBlgSz8sSM
Susan Boyle no Britain's Got Talent - http://www.youtube.com/watch?v=wnmbJzH93NU
Diversos vídeos de Maisa Silva - http://www.youtube.com/watch?v=VFwLyFXlMHU
Família "para nossa alegria" - http://www.youtube.com/watch?v=K02Cxo3fAC8
Friday de Rebecca Black - http://www.youtube.com/watch?v=kfVsfOSbJY0
Ai, se eu te pego do Michel Teló - http://www.youtube.com/watch?v=hcm55lU9knw

O ponto em comum a todos esses vídeos é a espontaneidade. Nesta frase está dito: é impossível "fabricar" um vídeo viral. Vídeos verdadeiramente virais não são profissionalmente "produzidos", se tornam sucesso "espontaneamente" justamente por seus espectadores perceberem q eles são autênticos, espontâneos.

Isso de certa forma demonstra a percepção pelo público de q nossa "sociedade do espetáculo" é artificial, forjada, montada, maquiada, ensaiada; e nosso desejo por alguma autêntica verdade em nosso cotidiano. E nisto talvez subjaza a idéia de q enquanto a TV é um "mundo de mentira", de ficção; os vídeos da net seriam um "mundo de verdade", não-ficcional.

Por mais q tenham audiência vídeos de Justin Bieber e Lady Gaga no mesmo Youtube, eles não são verdadeiros virais, pois serão esquecidos. Já o "Charlie Bit my Finger", o bebê q se acalma magicamente ao som de Bob Marley e o sorrisão do menino "Para nossa alegriaaaaaaaa..." jamais. Eles ganham um espaço carinhoso em nossa memória coletiva. Justamente por percebermos q nada disso foi posado, calculado. Q estes vídeos não foram produzidos por um "marqueteiro" q quer nos manipular a comprar coisas.

Gostamos desses vídeos virais justamente por sua inocência, despretensão, veracidade. Há um bom exemplo de como tentar "manufaturar" isso pode ser deletério. A companhia telefônica "Vivo" produziu um vídeo sobre a música "Eduardo e Mônica" da Legião Urbana divulgado a princípio como um "vídeo de fã" http://www.youtube.com/watch?v=N3pLiy1yoro e devo confessar q me senti profundamente "traída" após me emocionar com o vídeo e só ao seu final me dar conta de q se tratava de uma "propaganda". Nos seus efeitos, mais para anti-propaganda. Depois de este amplo fracasso de "marketing" as empresas passaram a ser muito mais reticentes e cautelosas ao tentar "fabricar vídeos" pretensamente "virais" pois perceberam q isso não dá lá muito certo.

Estratégia diferente e mais positiva é apoderar-se de um fenômeno espontâneo para capitalizar uma carreira ou empresa. Bons exemplos são a participação de Rebecca Black no clip "Last Friday Night" de Katy Perry http://www.youtube.com/watch?v=Ghe52kEPpAQ e a apropriação do viral "Baby laughing hysterically at ripping paper" http://www.youtube.com/watch?v=RP4abiHdQpc por uma campanha do banco Itaú http://www.youtube.com/watch?v=p9Z9n0I8Dfo ambos estes exemplos são positivos pois os "fenômenos" eram, em sua origem, "naturais". Q depois de conhecidos aproveitem seus "15 minutos de fama" para ganhar algum dinheiro é visto positivamente. Mas q tenham sido "treinados" ou "fabricados" profissionalmente para o sucesso, isso não é aceitável.

Se vc leu este texto à procura de uma fórmula de como fazer um vídeo virar viral, minha única dica é: desista. Esqueça tudo o q vc pretende, abandone tudo o q vc pensou, pegue seu sobrinho de 3 anos, grave e espere. Em menos de 1 hora ele fará uma coisa engraçadíssima, q não venderá nada, mas tem alguma chance de virar "viral".

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