sábado, 30 de junho de 2012

Deus julga as mulheres com maior leveza?

Será que HaShem julga as mulheres com maior "benevolência" do q o faz em relação aos homens?

Vejamos algumas passagens sobre a condição feminina:

Lv 27:
1 Javé falou a Moisés: 2 «Diga aos filhos de Israel: Quando alguém quiser cumprir um voto a Javé, em relação ao valor de uma pessoa, o valor será o seguinte: 3 Se for um homem entre vinte e sessenta anos, a taxa será de quinhentos gramas de prata, conforme o peso padrão do santuário. 4 Se for uma mulher, a taxa será de trezentos gramas. 5 Se for um rapaz entre cinco e vinte anos, a taxa será de duzentos gramas. Se for uma jovem, a taxa será de cem gramas. 6 Se for um menino entre um mês e cinco anos, a taxa será de cinqüenta gramas. Se for uma menina, a taxa será de trinta gramas. 7 Se for um homem de sessenta anos para cima, a taxa será de cento e cinqüenta gramas. Se for uma mulher, será de cem gramas.

Nisto está claro q, ao menos em dinheiro, uma mulher vale menos q um homem. Ou, se visto de outra forma, q um pecado feminino pesa menos q um pecado masculino. Isso tb pode ser inferido daqui:

Gn 3:
16 Javé Deus disse então para a mulher: «Vou fazê-la sofrer muito em sua gravidez: entre dores, você dará à luz seus filhos; a paixão vai arrastar você para o marido, e ele a dominará».

17 Javé Deus disse para o homem: «Já que você deu ouvidos à sua mulher e comeu da árvore cujo fruto eu lhe tinha proibido comer, maldita seja a terra por sua causa. Enquanto você viver, você dela se alimentará com fadiga. 18 A terra produzirá para você espinhos e ervas daninhas, e você comerá a erva dos campos. 19 Você comerá seu pão com o suor do seu rosto, até que volte para a terra, pois dela foi tirado. Você é pó, e ao pó voltará».

Na expulsão do Éden a punição às mulheres é passageira, se dá apenas quando está grávida e vai dar a luz. A punição ao homem é permanente: ele é punido com o trabalho extenuante em todos os dias de sua vida. A punição pesa mais sobre o homem do q sobre a mulher.

Nesta outra passagem é relativizado o adultério. Diz q se uma mulher é levada a isso sem ser livre (e quase nenhuma mulher era "livre") ela não deve ser penalizada.

Lv 19:
20 O homem que se unir a uma mulher que é escrava concubina de outro homem, sem que ela tenha sido resgatada nem alforriada, pagará uma multa. Eles não serão mortos, pois a mulher não era livre.

Outra Lei da qual podemos inferir este princípio é esta

Ex 22:
15 Se alguém seduzir uma virgem solteira e se deitar com ela, pagará o dote e se casará com ela. 16 Se o pai dela não quiser dá-la, o sedutor pagará em dinheiro, conforme o dote das virgens.

Nessa passagem o interessante é: nenhuma punição é prescrita à moça solteira seduzida q se entregou voluntariamente. Apenas o "sedutor" é punido. E não com o apedrejamento, mas com uma simples multa pecuniária.

Creio q isso resulte dessa outra passagem

Nm 30:
2 Moisés falou aos chefes das tribos de Israel: «Assim ordena Javé: 3 Quando um homem fizer um voto a Javé ou se comprometer com alguma coisa sob juramento, não deverá faltar à palavra. Cumpra o que prometeu.

4 Quando uma mulher, ainda solteira e morando com o pai, fizer um voto ou se obrigar a uma promessa, 5 se o pai, conhecendo o voto ou a promessa que ela fez, nada lhe disser, então os votos dela são válidos e a promessa ficará de pé. 6 Contudo, se o pai, no dia em que tomou conhecimento, fez oposição à promessa, nenhum dos votos e promessas que ela fez serão válidos. Javé a dispensa, porque o pai dela desaprovou.

7 Se ela se casar comprometida pelo voto ou pela promessa que fez sem pensar, 8 e se o marido, ao tomar conhecimento, nada lhe disser no dia em que for informado, os votos e promessas que ela fez serão válidos. 9 Contudo, no dia em que o marido tomar conhecimento, se ele fizer oposição, o voto que ela fez ficará nulo, e a promessa que fez sem pensar não terá efeito. Javé os dispensará.

10 O voto de uma viúva ou repudiada e todas as promessas que fizer serão válidos.

11 Quando uma mulher faz um voto na casa do seu marido, ou se compromete com alguma coisa sob juramento, 12 se o marido, ao saber do fato, nada lhe diz e não lhe faz oposição, então os votos dela são válidos e a promessa que fez ficará de pé. 13 Contudo, se o marido, ao ser informado, os anula, então os votos e promessas dela ficam inválidos. Seu marido os desaprovou e Javé a dispensa.

14 O marido pode confirmar ou anular qualquer voto ou juramento de penitência feito pela sua mulher. 15 Contudo, se o marido nada lhe diz até o dia seguinte, então confirma todos os votos e promessas que a obrigam: ele os confirma com o silêncio que guardou ao ser informado. 16 Todavia, se foi informado e os anula mais tarde, ele próprio levará o peso da culpa de sua mulher».

17 São essas as ordens que Javé deu a Moisés para o marido e a mulher, e para o pai e a filha, quando esta ainda vive com seu pai.

A moça solteira, q ainda mora com seu pai, não é dona de si própria e não pode assumir sozinha nenhum compromisso. E caso o faça, seu pai pode livremente anular qualquer compromisso q sua filha dependente assuma, sem que o Criador impute nada negativo a ela. A moça solteira era propriedade do pai, q inclusive podia vender a própria filha como escrava (cf Ex 21:7). A mulher casada era propriedade do marido (cf Nm 5:19 e Gn 2:16), estava sob seu domínio e a ele devia obediência.

A Torah possui 613 mitzvot. Porém as mulheres não são obrigadas a segui-las todas, vejamos:

"As mulheres têm menos obrigações porque são conectadas de maneira diferente dos homens; possuem um progresso espiritual embutido. Os homens precisam usar kipá sobre a cabeça para lembrarem que D’us está acima deles. As mulheres não, porque elas têm a presença de D’us já incorporada em seu projeto espiritual." fonte: http://www.chabad.org.br/interativo/faq/mulher_mitsvot.html

"Apesar da mulher judia estar igualmente obrigada, como o homem, a cumprir todas as proibições da Torá, os mandamentos proibitivos (e estes são a maioria - 365 "não faças"para 248 "faça").
"Entretanto, no que se refere aos mandamentos positivos, a mulher judia está isenta do cumprimento de alguns deles (de modo algum, não todos), principalmente os que têm um fator tempo ou limite, em consideração aos seus importantes deveres conjugais e maternais, aos quais a Torá dá precedência. Neste aspecto, portanto, a mulher judia é antes "privilegiada". (...)
"Sob o ângulo feminino, toda mulher judia deve estar consciente de ter sido dotada de uma maior sensibilidade que permite estabelecer uma conexão com D’us de forma direta e profunda. Sob este prisma, sua natureza é mais uma vantagem, um ponto a seu favor. O fato de D’us tê-la isentado de certas tarefas mostra todo apreço que Ele dedica ao seu papel essencial dentro do povo judeu e na garantia de sua continuidade." fonte: http://www.chabad.org.br/biblioteca/artigos/mulher_fez/home.html

Uma vez q as mulheres são obrigadas a seguir menos leis q os homens e o preço do resgate de uma mulher é inferior ao de um homem, podemos considerar que o Criador é mais benevolente com as mulheres do q com os homens? Que HaShem exige menos das mulheres, as julga com menor rigor do q o faz em relação aos homens?

Nascer mulher é uma bênção e dá um campo de liberdade maior ao ente feminino do q seus equivalentes masculinos têm? Isto posto, posso agradecer pela manhã a Deus ter nascido mulher, e não homem?

terça-feira, 19 de junho de 2012

Estou tonto - Fernando Pessoa via Alvaro de Campos

Estou tonto,
Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar,
Ou de ambas as coisas.
O que sei é que estou tonto
E não sei bem se me devo levantar da cadeira
Ou como me levantar dela.
Fiquemos nisto: estou tonto.
Afinal
Que vida fiz eu da vida?
Nada.
Tudo interstícios,
Tudo aproximações,
Tudo função do irregular e do absurdo,
Tudo nada.
É por isso que estou tonto ...

Agora
Todas as manhãs me levanto
Tonto ...

Sim, verdadeiramente tonto...
Sem saber em mim e meu nome,
Sem saber onde estou,
Sem saber o que fui,
Sem saber nada.

Mas se isto é assim, é assim.
Deixo-me estar na cadeira,
Estou tonto.
Bem, estou tonto.
Fico sentado
E tonto,
Sim, tonto,
Tonto...
Tonto.

Fernando Pessoa via Álvaro de Campos

terça-feira, 12 de junho de 2012

Reinvencao - Cecilia Meireles

A vida só é possível reinventada.
Anda o sol pelas campinas e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas. . .
Ah! Tudo bolhas que vêm de fundas piscinas de ilusionismo... – mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada.
Vem a lua, vem, retira as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço...
Só - no tempo equilibrada, desprendo-me do balanço que além do tempo me leva.
Só - na treva, fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada.

Cecília Meireles

domingo, 3 de junho de 2012

Causos escolares: aborto e covardia

Recentemente ouvi um relato de uma aluna q me tocou profundamente por sua sinceridade e delicadeza. Foi numa sétima série da EJA, a aluna é uma mulher negra de mais de 40 anos, com o semblante sofrido das pessoas q trabalham desde sempre por um salário miserável. Durante a aula eu havia comentado algo sobre o reconhecimento de paternidade e naqueles 5 minutos finais ela espontaneamente começou a contar essa história. Espero ser capaz de reproduzí-la dignamente. Apenas para fins didáticos, a relatarei do ponto de vista da aluna.

- Sabe, professora, eu tenho uma filha q não tem o nome do pai da certidão. Eu nem vou atrás disso nem de pensão, hj sou casada e meu marido é um verdadeiro pai pra minha filha.

- Mas vc deve ir atrás disso. O dinheiro da pensão não é para vc, é para a menina. Mesmo q vc não precise ou não queira tocar no dinheiro, entre na Justiça e exija a pensão a q sua filha tem direito. Se vc quiser, pode deixar esse dinheiro no banco e ela pode sacar quando ficar maior de idade, assim ela vai ter um dinheiro pra fazer faculdade, ou até comprar um carro.

- Mas é q me disseram q se o pai pagar pensão vai ter direito de levar ela nos finais de semana.

- Sim, é um direito. Quando a pensão alimentícia é acertada, o juiz também determina os dias de visitação. Se o pai estiver pagando pensão, tem direito a passar alguns finais de semana com a menina.

- Professora, é justamente isso q eu não quero. A senhora não sabe o quanto esse homem me fez sofrer. Quando eu engravidei, ele falou q não queria o bebê, q eu já tinha 2 filhos, do meu ex-marido q tb nunca pagou pensão, q ele estava desempregado, q eu era faxineira e ganhava salário mínimo. Um dia ele chegou com uma cartela de remédio na mão, me mandou tomar e disse q isso ia "resolver o problema". Nem sei dizer como eu me senti.

Eu olhava pros meus filhos e sentia uma dor, nem sei onde, pensando se eu tivesse abortado eles, matado eles e eles não estivessem naquela hora sorrindo pra mim. Não sou religiosa nem nada, nunca tinha pensado em fazer um aborto, mas vendo meus filhos, mesmo naquela situação, não tive coragem. Sabe, se um homem tivesse me pegado à força talvez eu tivesse coragem, mas tinha feito aquele bebê apaixonada. O bebê não tinha culpa se agora eu descobria q o pai dela não era um homem de verdade.

Não tive coragem, professora. O meu namorado largou de mim quando eu disse q não ia abortar. Nunca mais olhou na minha cara nem quis saber da criança. Eu chorei a gravidez inteira, sem saber o q seria de mim, sozinha e com 3 filhos pequenos pra criar, sem marido pra me ajudar. Quando fui contar pros meus patrões, tive medo de ser demitida, mas eles me deram força, ainda mais quando contei o q o pai da criança tinha sugerido. Mesmo levando a gravidez adiante, não estava feliz, não fazia planos, não conseguia pensar num nome, o bebê era mais motivo de preocupação do q de alegria, e assim foi os 9 meses.

Mas sabe, professora, quando a gente tá no fundo do poço a gente vê como Deus não nos abandona e nos dá força quando a gente mais precisa. Entrei em trabalho de parto justamente na festa de Reveillon. Q apuros! Comecei a sentir as contrações e meu pensamento foi "Agora para melhorar tudo não vou conseguir q ninguém me socorra, ninguém vai trocar a festa de Reveillon por uma noite no hospital, talvez nem tenha médico pra fazer o parto!"

Mas um vizinho me ajudou na hora, me levou pra Santa Casa e minha filha nasceu assim q o ano virou, perfeita e saudável. Minha filha foi o primeiro bebê a nascer em Rio Claro em 20**. Todas as enfermeiras e médicos ficaram emocionados, veio todo mundo me dar os parabéns. Até um jornalista tirou foto da gente e perguntou o nome da bebê. Eu ainda não tinha decidido, mas naquela hora o nome dela veio direto na minha cabeça e não tive nenhuma dúvida: "O nome dela é Vitória".

Minha filha foi a minha vitória na vida, e percebi q ela tinha nascido naquele momento pra me trazer de volta a esperança. Senti um pouco de vergonha de ter passado a gravidez tão triste, preocupada e sem esperanças, pois segurando minha filhinha no colo vi q ela era um presente de Deus e q me traria muitas alegrias no futuro. E como ela saiu no jornal, virou o xodó da vizinhança e ganhei um monte de roupinhas e fraldas q eu não teria condições de comprar.

O pai dela nem quis saber. Ele mora perto de mim até hoje, e quando a gente se cruza na rua ele vira a cara, muda de calçada, dá um jeito de fingir q não nos conhece. Alguns anos depois me casei de novo, e meu atual marido é um verdadeiro pai para a Vitória.

Se eu for pedir pensão pra minha filha, ela vai me perguntar pq me separei do pai dela, pq ele nunca quis saber dela. E eu não quero contar pra ela. Eu não quero q ela saiba q o pai quis q ela fosse abortada. Acho melhor ela não saber, pois se ela souber q o pai dela existe e quis q ela não existisse ela pode ficar revoltada, e com razão.

Às vezes quando ela está brincando, percebo q ela fantasia com o pai imaginário, q seria um grande herói. Quando ela me perguntou quem é o seu pai disse q ele mora em outra cidade, e a gente não tem mais contato. Não sei o q vou dizer quando ela crescer, ou se alguém apontar o pai dela na rua, pois eles são muito parecidos. Não quero q ela saiba q um dia não foi desejada, pois ela, junto com meus outros filhos, é a maior alegria q eu tenho, e meu motivo de viver. Nem sei como eu me sentiria hoje se tivesse sido covarde e matado minha filhinha. Não quero q ela jamais venha a saber disso.


- Acho q vc está mais q certa. Parabéns pela sua coragem. - disse eu, percebendo q naquela aula ela havia ensinado a mim mais do q eu poderia ensinar a ela. Não sobre História, mas sobre Vida, Coragem, Ética e Amor.
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