segunda-feira, 30 de abril de 2012

O que faz um video virar viral

Quem testemunhou o transcorrer do bidecênio 1990-2000 viu uma transformação elementar surgir na "cultura pop": a disseminação dos "vídeos virais".

Nos idos dos 1990 víamos esses videozinhos na televisão, nas famosas "Cassetadas do Faustão", instantâneos anônimos, internacionais, vendidos por seus autores aos canais de TV. Fora do Brasil, há ainda inúmeros programas nesse estilo, me limito a citar os "Vídeos Divertidos do Animal Planet", cujo acervo ainda é composto por arquivos enviados pelos telespectadores. Quem manda um vídeo para esses programas é pago, em prêmios ou dinheiro.

A partir da popularização do Youtube nos anos 2000, a dinâmica de divulgação destes vídeos "caseiros" foi radicalmente alterada, e surgiram as expressões "meme" e "viral" para se referir a estas obras q, inadvertidamente, despretensiosamente, "bombam" na internet; sem q este "sucesso" fosse previsto por seus protagonistas ou videomakers.

A diferença essencial entre os 1990 e os 2000 neste quesito é a mediação jornalística. Nos 1990 o q assistíamos passava pelo crivo e seleção das equipes de produtores dos programas de TV. Depois do advento do Youtube, especialmente após sua aquisição pelo Google, os vídeos viram hit sem nenhuma mediação ou seleção de "profissionais da comunicação".

Outra diferença secundária: o tempo. Nos 1990 ríamos de vídeos com muitos anos de gravados. E às vezes era melancólico perceber num vídeo com mais de 10 anos de filmado q o cachorro ou gato q protagonizava atos hilários já estava a esta altura morto... Hj isso não mais acontece. O "viral" sempre é radicalmente recente, de ontem.

Vídeos verdadeiramente virais são, literalmente, assistidos por "todos", isto é, todo o público ativo e "plugado na net". Podem não alcançar um bilhão de views, mas pelo menos 100 milhões devem atingir; e devem ser lembrados num piscar de olhos.

Pensando no público q lerá este texto daqui a muitos anos, faço a seguir uma brevíssima seleção de vídeos virais atuais q foram assistidos por "todo o público da internet" para exemplificar o q faz um vídeo fazer sucesso no Youtube. Todos lembrados num átimo, sem esforço, por esta blogueira.

David after dentist - http://www.youtube.com/watch?v=txqiwrbYGrs
Baby Bob Marley - http://www.youtube.com/watch?v=McuLdjL2hh8
Charlie bit my finger - http://www.youtube.com/watch?v=_OBlgSz8sSM
Susan Boyle no Britain's Got Talent - http://www.youtube.com/watch?v=wnmbJzH93NU
Diversos vídeos de Maisa Silva - http://www.youtube.com/watch?v=VFwLyFXlMHU
Família "para nossa alegria" - http://www.youtube.com/watch?v=K02Cxo3fAC8
Friday de Rebecca Black - http://www.youtube.com/watch?v=kfVsfOSbJY0
Ai, se eu te pego do Michel Teló - http://www.youtube.com/watch?v=hcm55lU9knw

O ponto em comum a todos esses vídeos é a espontaneidade. Nesta frase está dito: é impossível "fabricar" um vídeo viral. Vídeos verdadeiramente virais não são profissionalmente "produzidos", se tornam sucesso "espontaneamente" justamente por seus espectadores perceberem q eles são autênticos, espontâneos.

Isso de certa forma demonstra a percepção pelo público de q nossa "sociedade do espetáculo" é artificial, forjada, montada, maquiada, ensaiada; e nosso desejo por alguma autêntica verdade em nosso cotidiano. E nisto talvez subjaza a idéia de q enquanto a TV é um "mundo de mentira", de ficção; os vídeos da net seriam um "mundo de verdade", não-ficcional.

Por mais q tenham audiência vídeos de Justin Bieber e Lady Gaga no mesmo Youtube, eles não são verdadeiros virais, pois serão esquecidos. Já o "Charlie Bit my Finger", o bebê q se acalma magicamente ao som de Bob Marley e o sorrisão do menino "Para nossa alegriaaaaaaaa..." jamais. Eles ganham um espaço carinhoso em nossa memória coletiva. Justamente por percebermos q nada disso foi posado, calculado. Q estes vídeos não foram produzidos por um "marqueteiro" q quer nos manipular a comprar coisas.

Gostamos desses vídeos virais justamente por sua inocência, despretensão, veracidade. Há um bom exemplo de como tentar "manufaturar" isso pode ser deletério. A companhia telefônica "Vivo" produziu um vídeo sobre a música "Eduardo e Mônica" da Legião Urbana divulgado a princípio como um "vídeo de fã" http://www.youtube.com/watch?v=N3pLiy1yoro e devo confessar q me senti profundamente "traída" após me emocionar com o vídeo e só ao seu final me dar conta de q se tratava de uma "propaganda". Nos seus efeitos, mais para anti-propaganda. Depois de este amplo fracasso de "marketing" as empresas passaram a ser muito mais reticentes e cautelosas ao tentar "fabricar vídeos" pretensamente "virais" pois perceberam q isso não dá lá muito certo.

Estratégia diferente e mais positiva é apoderar-se de um fenômeno espontâneo para capitalizar uma carreira ou empresa. Bons exemplos são a participação de Rebecca Black no clip "Last Friday Night" de Katy Perry http://www.youtube.com/watch?v=Ghe52kEPpAQ e a apropriação do viral "Baby laughing hysterically at ripping paper" http://www.youtube.com/watch?v=RP4abiHdQpc por uma campanha do banco Itaú http://www.youtube.com/watch?v=p9Z9n0I8Dfo ambos estes exemplos são positivos pois os "fenômenos" eram, em sua origem, "naturais". Q depois de conhecidos aproveitem seus "15 minutos de fama" para ganhar algum dinheiro é visto positivamente. Mas q tenham sido "treinados" ou "fabricados" profissionalmente para o sucesso, isso não é aceitável.

Se vc leu este texto à procura de uma fórmula de como fazer um vídeo virar viral, minha única dica é: desista. Esqueça tudo o q vc pretende, abandone tudo o q vc pensou, pegue seu sobrinho de 3 anos, grave e espere. Em menos de 1 hora ele fará uma coisa engraçadíssima, q não venderá nada, mas tem alguma chance de virar "viral".

domingo, 29 de abril de 2012

Da depresssao. Ou por uma vida com proposito

Este não é um texto de auto-ajuda pois abomino essa corrente editorial e tudo dela derivado. Normalmente a auto-ajuda digressa sobre platitudes "motivacionais" q se pretendem um "apanágio universal" para a dor da existência, se arrogando em poder direcionar para o "caminho do sucesso" a qquer um q colocar em prática seu "manual polivalente para todas as circunstâncias". Se vc acredita q ler um livro de um pseudo-cientista do comportamento humano pode "dar um jeito definitivo" na sua vida sinto informar q vc está profundamente iludido.

Por muitos anos sofri de depressão e creio q dela tenha me curado, ou ao menos melhorado bastante, e é o relato de como isso se deu q pretendo fazer a seguir. Não como um guia universal, mas como caso ilustrativo.

Não sou contrária à alopatia em geral nem aos medicamentos psiquiátricos em específico, há casos em q ambos se fazem fundamentais. Porém minha experiência com medicamentos para depressão não foi muito positiva. Eu mesma solicitei q meu médico do Hospital Universitário da USP me prescrevesse um antidepressivo, e o escolhido foi o Cloridrato de Sertralina, princípio ativo do Zoloft.

Tudo o q este remédio fez por mim foi não conseguir dormir nem me alimentar por uns 15 dias. Perdi neste período 6kgs. e ganhei grandes olheiras. Contudo, o prossegui tomando por mais de 1 ano, sem melhora perceptível no meu estado depressivo. Não estou a dizer q este medicamento não funcione, mas para meu caso ele foi inócuo. Não propriamente "inócuo", pois tomá-lo causava um grande rombo em minhas parcas finanças estudantis, custando à época cerca de R$ 100,00 a caixa do genérico. Mero detalhe prático q demonstra q estava de fato levando a sério o tratamento.

A psicoterapia levada a cabo pelo doutor PGA foi igualmente inócua. Não q ele seja mau profissional, longe disso. Doutor Pedro sempre foi muito profissional, eu é q não estava preparada para lidar com questões pessoais mais profundas. E nas principais questões q me levaram à depressão nem chegamos a tocar em nossas sessões. Eu me escondia de mim mesma, como iria me abrir a um "médico"? Eu mesma não queria encarar, enfrentar nem "tentar resolver" meus problemas fundamentais. Não estava madura o suficiente para isso.

Muitos anos depois, mais calejada e vivida, percebi a origem de minha depressão: meu apego ao passado. Não foi à toa q optei pela faculdade de História, mas por esta característica fundamental da minha psique. E descobri q era essa minha "saudade" ou "nostalgia" q resultava na minha melancolia, ou acídia: a recusa em aceitar q as coisas mudam, e o desejo de restaurá-las à forma como eram anteriormente; um esforço completamente infrutífero, pois o tempo não volta.

Enquanto meu referencial foi o passado estive em permanente estado de depressão. No momento em q troquei o passado pelo futuro, a depressão deu uma boa trégua. Isso se deu quando criei um propósito para minha trajetória pessoal: abandonei o passado e passei a fazer planos para o futuro.

Como membro do gênero feminino no Ocidente, fui criada sob o bombardeio sócio-cultural do q a sociedade esperava de mim: q eu encontrasse um marido e dele tivesse filhos, de forma a me sentir "realizada"; e aos 15 anos não tinha nenhuma dúvida de q lá pelos 25 isso já estaria feito e todo o resto do meu "Destino" seria um desdobramento da família q eu já teria a esta altura "conquistado".

De certa forma deprimi-me por perceber meu fracasso em preencher este modelo. Pela impressão de q estava a falhar no q sociedade esperava de mim. Os 25 anos se aproximavam e eu estava longe de ter um namorado sério q tencionasse comigo se casar e ter filhos. A muito custo cheguei à conclusão de q este modelo de felicidade não dava para mim, não me bastava nem me satisfaria. Q o q me faria feliz não seria ser uma esposa-troféu e dona-de-casa modelo, nem uma mãe q se basta nisso, em "ser mãe".

Percebi q me casar e ter filhos não ajudaria na minha concretização pessoal, pelo contrário, atrapalharia meus reais objetivos. Os quais não existiam quando estava deprimida. Durante minha depressão eu não tinha planos, só lamúrias. Não pensava no futuro, só remoía o passado.

Foi um longo processo, mas certo dia acordei e ao invés de permanecer deitada por falta de vontade de lidar com a vida, rapidamente estava em pé. Não pelo efeito de algum remédio, mas por uma mudança psicológica interna: acordei com vontade de realizar um projeto.

Percebi q depois de colocar em minha cabeça q havia algo ao meu alcance q eu poderia realizar e me daria prazer a depressão meio q "sumiu". Minha vida parou de girar em falso, cessou de ser um eterno retorno aos mesmos temas dolorosos e passou a se centrar no futuro. Agora eu tinha um plano. Acordar, a cada dia, não era mais um peso, mas um oportunidade. Os dias deixaram de ser vazios e ganharam um novo significado. Agora eu tinha uma meta a atingir.

Aos depressivos deixo este conselho: escolham um propósito para sua vida. O simples fato de vc ter uma meta para o futuro melhorará o seu hoje. Pode ser escrever num blog, correr a São Silvestre, ser um profissional reconhecido, publicar um livro. O q importa não é a meta, mas o fato de vc mudar seu referencial do passado, escrito e imutável, q não há de "melhorar"; pelo futuro, por escrever, por construir e q pode ser muito melhor a depender de sua gana em chegar lá.

Enquanto ficarmos remoendo o passado, nada há de mudar. Quando passarmos a nos focar no futuro encontraremos um campo aberto pleno de possibilidades, cheio de virtualidades, prenhe de acontecimentos ainda por se fazer conhecer e q seguramente nos surpreenderão. Se o teu passado te deprime, deixe-o para trás. Erija com suas próprias mãos um futuro. Se não "melhor", ao menos "diferente". O passado está dado e jamais mudará. Já o futuro, ah o futuro, só depende de vc.

Não desista do futuro por conta do peso do passado. Deixe para trás quem te deixou para trás. Esqueça quem te esqueceu. Abra mão, deixe ir. Desistir de algumas pessoas e situações não é sinal de fracasso, mas de maturidade. Não viva o ontem. Nem o hj. Aspire o amanhã. E crie para ele um belo aroma. O aroma da realização pessoal. O cheiro do "eu conquistei isso com meu próprio esforço e capacidade".

Se vc não gosta do q vc foi nem do q vc é: reinvente-se. Invente para si mesmo um futuro do qual se orgulhar.


terça-feira, 24 de abril de 2012

Porque nao tiro mais Tarot

Poucos dos q me conhecem pessoalmente tiveram a oportunidade de testemunhar minhas habilidades de cartomante. Não as costumo propagandear ou fazer uso delas por uma série de motivos, reais e imaginados.

Aprendi a tirar as cartas do tarô ainda no Ensino Médio. Na época comprei um set de cartas e 3 livros sobre o assunto: Tarô Clássico, Os Arcanos Maiores do Tarot e a Cabala, e Iniciação à Cabala; e tendo-os lido comecei a brincar de ler a sorte dos meus amigos, de forma desprentesiosa.

Sempre tive noção da responsabilidade do q estava a fazer, por isso em todas as vezes, ao "abrir as cartas" não fazia uma leitura livre, mas me munia do significado das cartas no livro Tarô Clássico e relia a descrição do significado de cada carta antes de interpretá-la no "jogo". E também jamais cobrei de absolutamente ninguém por isso, só o fazia para amigos, e a pedido deles.

Aqueles q conhecem minha militância em defesa da Torah podem estranhar o fato de eu haver lido Tarot pois tal prática é vetada pela Halachá (Lei Judaica) neste versículo:

Levítico 19: 31 Não se dirijam aos necromantes, nem consultem adivinhos, porque eles tornariam vocês impuros. Eu sou Javé, o Deus de vocês.

Antes de mais nada, a Lei Mosaica é obrigatória aos judeus, não aos gentios. Não estou falando q seja lícito tirar o Tarot, pois não é. Aos judeus. Os Noachides não são obrigados a seguir os 613 mandamentos da Torah, apenas as 7 leis de Noé. Mesmo sabendo q eu não era "obrigada" a cessar de praticar "adivinhações", após começar meus estudos de Teologia Judaica, parei de "brincar" de perscrutar os desígnios divinos.

Mas apenas muitos depois fui compreender, visceralmente, pq não devemos tentar divisar as coisas q nos estão ocultas. Parei de tirar o Tarot até para mim mesma, percebendo q não era capaz de compreender e de lidar com o que os arcanos revelavam sobre minha própria vida. E por vários anos meu jogo de Tarot ficou esquecido acumulando poeira.

Até q numa conversa despretensiosa com duas amigas professoras lhes disse que era também taróloga. Mais do q rapidamente ambas ficaram em polvorosa para que eu "lesse seus destinos". Numa ocasião posterior marcamos de nos encontrar na casa de uma delas e solicitaram-me que levasse meu baralho de Tarot. Meio q de brincadeira, levei. Me pediram q lhes abrisse as cartas.

Amiga T. Colega historiadora. Gaúcha, fizera faculdade no Paraná onde, no último ano, engravidara de seu namorado paulista, motivo pelo qual se mudara para minha cidade. Em nossas conversas, ela sempre dizia como tudo o q fazia atualmente era em prol de sua filha, q só se mudara para SP por ela, q aguentava todos os desaforos da sogra por ela, q suportava os desfeitos do namorido pouco dedicado em nome de sua filha. Abri-lhe o Tarot.

Minha primeira frase, após um longo suspiro foi: "As cartas falam uma coisa muito diferente do q vc me disse. Olha, se eu estivesse cobrando, diria o q vc quer ouvir, mas como não estou cobrando, e vc é minha amiga, vou te dizer a verdade: sua filha sequer aparece no jogo." Olhando bem a carta dos enamorados encimada pelo carro e pela papisa disse: "Olha, desculpa a sinceridade, mas pelo q estou vendo aqui vc se mudou e está aqui pq vc ama seu namorado, não por causa da sua filha. Aqui está muito claro: vc ama esse homem. Não é por causa da sua filha q vc está aqui, é por causa do seu namorado."

Ela não fez nenhum comentário, guardou um silêncio pesado e me olhou como se eu houvesse pichado no muro um grande segredo q ela escondia de si mesma.

Amiga R. Filósofa. Estava envolvida com um rapaz q acabara de descobrir q sua outra namorada, da qual R. sabia, estava grávida. Antes de pegar o Tarot ela me disse: "Preciso saber se ele mentiu pra mim, pois falou q queria ficar comigo, e agora a outra está grávida. Quero saber se ele está sendo sincero comigo ou fazendo jogo duplo".

Abrimos as cartas. Sol, temperança, carro, imperatriz. Nenhuma Lua. Eu pessoalmente não gostava do rapaz e cria q R. não fazia bom negócio ao ficar com ele. Contudo, relatei o q o jogo revelava, e nele não havia nenhuma mentira, nenhuma enganação. Abri minha boca e disse: "as cartas não revelam nada sobre mentira, muito pelo contrário, dizem q ele está sendo sincero com vc."

Ela abriu um sorriso como de quem agradece um grande favor, e pareceu aliviada com o resultado da leitura das cartas.

Naquele dia fiz uma leitura do Tarot q eu mesma considerei sem maiores conseqüências. Até uma semana depois.

Em exatos 7 dias minha amiga T. se separou do namorido. Disse-me : "tudo o q vc falou no Tarot fez muito sentido. Eu colocava nas costas da minha filha o peso de decisões q eu tomei não por ela, mas por mim. Depois q vc leu as cartas para mim parei para pensar e vi q vc estava certa. Eu me mudei para cá não pq tinha uma filha pequena, mas pq amava o pai dela. E sabe o q descobri depois de pensar muito nisso? Q não o amo mais! Vou voltar pro Rio Grande do Sul!"

Engoli seco. Percebi minha parcela de responsabilidade no "separar uma família". Sei q não sou responsável pelas escolhas de T., mas talvez eu tivesse lhe dito coisas q ela não estava pronta para ouvir, e com isso me tenha feito parcialmente responsável por sua filha, no futuro, não ter nenhuma lembrança do próprio pai.

A outra amiga, a filósofa R. menos de 2 anos depois se casou com o rapaz sobre o qual havia-me perguntado se era mentiroso e eu garantira q não. Não há como saber, objetivamente, se na ocasião de ele ter engravidado outra ele estava mentindo ou não, mas não deixei de pensar q, caso naquela ocasião, eu tivesse dito q ele mentia, R. não estaria hj casada com ele.

E me caiu muito mal a sensação de q um dia essa amiga pode se virar para mim e dizer: "Casei com o maior 171 pq vc me garantiu q ele era sincero, e quebrei a cara!" Sei q não sou responsável pelas escolhas dela, mas percebi como arvorar-me em ser capaz de "ver o q está escondido" poderia interferir, de forma definitiva, no destino dos meus consulentes, e como eu não estou disposta a arcar o peso dessa responsabilidade.

Desde então, há vários anos, não tiro as cartas para ninguém, nem para mim. E o motivo não foi perceber q eu não fosse capaz de fazer as leituras, muito pelo contrário. Parei de ler as cartas do Tarot justamente por perceber q eu era, de fato, capaz de interpretá-las. Que eu era com elas capaz de ver coisas q os próprios consulentes não revelavam. Que com as cartas eu faria afirmações q interfeririam nas escolhas das pessoas, o q me faria parcialmente responsável pelo seu futuro.

Parei de tirar o Tarot pois não quero mais ver-me responsável por separar uma família q talvez ainda devesse estar junta, ou por possibilitar um casamento q talvez não devesse ter ocorrido. Parei de tirar o Tarot por perceber q não devemos brincar com os desígnios divinos, e que muitas vezes é melhor não saber, esperar as coisas se desenrolarem por si. E também por ver q não é da minha alçada interferir nas escolhas dos outros. Nem revelar-lhes coisas q não estão preparados para compreender.

domingo, 22 de abril de 2012

Por uma Matematica util

Para começar preciso avisar q sofro de analfabetismo matemático, ou "anadigitismo" num neologismo inventado. E creio q grande parte disso é devido ao ensino escolar dessa disciplina, pelo menos da maneira como me foi administrado.

Desde a quinta série, quando o "X" foi inserido no meu universo matemático, nada do q aprendi fez nenhum sentido. Até fui capaz de passar nas provas, achando infinitas vezes o valor de um X cujo significado eu ignorava. Entre a quinta série do Ensino Fundamental e a terceira série do Ensino Médio encontrei inúmeros X, Y, Z e até Deltas q para mim nunca significaram nada, apenas uma gigantesca chatice e decoreba. Passada a prova, as fórmulas eram mais do q rapidamente esquecidas. O q aprendi na matéria escolar de "Matemática" nunca me pareceu nem pretendeu me ensinar nada q eu pudesse usar "na prática" em meu cotidiano. Tudo abstrato, impalpável, no "mundo das idéias".

Lembrei-me disso recentemente quando um colega professor relatou sua desolação com o aprendizado dos alunos. Disse q numa prova apresentara uma pergunta muito simples: "Se o médico prescreve um medicamento para ser tomado a cada 4 horas, quantos remédios serão tomados por dia?" E nenhum, absolutamente nenhum, aluno respondera corretamente à questão, numa oitava série.

Mais do q alarmante, isso é assustador, não apenas da falha aprendizagem dos alunos como também de como a Matemática escolar é vista como completamente inútil e sem propósito pelo corpo discente.

Uma conta tão simples como um 24 dividido por 4 não é feita pelos alunos pois a forma como a Matemática é ensinada não propõe q estes conhecimentos interfiram no cotidiano dos alunos. Não se ensina "Matemática para a Cidadania", mas "Matemática pela Matemática", como se todos os alunos almejassem uma graduação nesta área.

Nos 8 anos de estudo em q fui obrigada a atender a esta matéria nunca nenhum professor ensinou "regra de 3", nem a simples, muito menos a composta. Nunca me ensinaram a calcular juros, simples ou compostos. Nenhuma palavra sobre taxas, imposto de renda, carga tributária, partilha de herança.

Cálculo de área? Só de figuras geométricas abstratas, nunca de um terreno, de uma casa ou cidade. Cálculo de volume? Só de sólidos abstratos, nunca de uma garrafa de refrigerante, do porta-malas de um carro ou uma geladeira. Na escola jamais aprendi nesta disciplina nada q se propusesse a me ajudar nos meus problemas cotidianos.

Se vc é professor de Matemática e acha q estou exagerando, faça o teste. Pergunte a seus alunos:
* Quantos dias tem um bimestre?
* Quantas horas tem uma semana?
* Se alguém trabalha 8 horas por dia, quantas horas trabalha num mês?

Todas essas perguntas são muito simples e deveriam ser respondidas sem problemas mesmo por quem só cursou até a quarta série. Contudo, posso afirmar com relativa segurança q menos de 50% dos alunos com diploma de ensino fundamental serão capazes de respondê-las.

Isso nada diz a respeito da capacidade intelectual desses alunos. Mas fala muito a respeito da forma vã, vazia e inócua como a Matemática tem sido ensinada no Brasil. Defendo uma Matemática útil. Q pare de calcular tantos X e Y completamente inúteis e ensine aos alunos habilidades q usarão no dia-a-dia. Q os faça compreender como é feito o cálculo das contribuições ao INSS, como funcionam os juros do "cheque especial", como é feita a partilha da herança num espólio, como calcular quantos ladrilhos preciso comprar para cobrir uma parede.

Professor de Matemática, saia do mundo das idéias e nos ensine coisas sobre o mundo real! Sei q os PCN's (Parâmetros Curriculares Nacionais) propõe esse tal "currículo". Mas mais importante q "seguir o currículo" é "ensinar". E o aluno só se aplica em aprender quando vê q esta aprendizagem será útil. O q a Matemática escolar não se propõe a fazer. Esqueça o q os burocratas de Brasília q nunca pisaram numa sala de aula te mandam fazer. Ensine o q seus alunos precisam aprender.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Finalmente nos livramos do Windows 95

Esse texto só será plenamente compreendido pelos "dinossauros" que acompanharam a evolução dos sistemas operacionais informáticos pelos últimos 20 anos, pois ele resgata uma experiência muito antiga: o uso da primeira versão amplamente popularizada do Windows, o 3.1 .

Vi um computador pela primeira vez aos 7 anos. Tela de "matriz verde" (não, os primeiros monitores não eram coloridos), sistema operacional DOS, sequer tinha Windows. O primeiro computador q eu tive, com uns 10 anos, era um 486 com Windows 3.1 e eu o adorava. Ao ligá-lo, rodava o DOS, era preciso saber algo sobre comandos sequer para abrir o Windows. Não tinha internet, acho q na época (1993) ou não tinha internet no Brasil ainda ou seu preço era proibitivo (me lembro q o primeiro sinal de "provedor de internet grátis" no Brasil só apareceu em 2000).

E foi justamente do Windows 3.1 q me lembrei ao comprar um iPad. Muitos dos conceitos postos em prática na interface gráfica do iOs estavam presentes no Windows 3.1 e foram abolidos na versão de 1995.

Quando instalei essa versão no meu PC minha primeira reação foi: "Odiei. Dá pra voltar pro 3.1?" Não dava. Se eu mantivesse a versão 3.1 teria q abrir mão de instalar jogos e softwares feitos para a nova versão, e ficaria "parada no tempo", o q em computação é o equivalente ao suicídio. A principal diferença entre as 2 versões era q o novo Windows não mais atendia ao conceito de "janelas" (windows) de navegação, substituídas pelo famigerado "botão iniciar" que abre pastas e subpastas de programas, divididos por categorias, com pouca liberdade de configuração personalizada.

No paradigma gráfico das versões do Microsoft Windows entre o 95 e o 7, era muito fácil instalar um programa e nunca mais conseguir encontrá-lo, perdido nas subpastas cuja lógica era meio incompreensível ao "consumidor final". A facilidade q tínhamos no 3.1 foi resgatada no iOs e agora no Windows 8.

Todas as versões do Windows entre o 3.1 e o 7 pressupõem q o usuário tenha certa destreza no ambiente computacional, saiba fazer certas configurações, saiba bem quando clicar em "OK" ou em "Cancelar" ao ponto de ser relativamente fácil um leigo só clicando em OK após OK desconfigurar completamente seu computador.

Esse problema está sendo progressivamente sanado nas novas versões ao ponto de q hj crianças analfabetas e até animais de estimação podem fazer uso das mais recentes traquitanas tecnológicas. Nesse ponto deve ser dito q, enquanto os Computadores Pessoais com sistema operacional Windows até a versão 7 se propõem claramente a ser um "instrumento de trabalho", o iPad mais parece um brinquedo. Não é possível nele q um leigo só clicando em OK's desconfigure seu sistema completamente. O iPad não pressupõe nenhum conhecimento prévio de tecnologia do seu consumidor. Até agora não é possível se apoiar no tablet como único equipamento informático pois ele não possibilita acesso a várias funções essenciais q usamos em nosso dia a dia. Editar documentos, projetar sites e blogs, dar upload em fotos, tudo que é "meio sério" q se faz num computador é infinitamente mais difícil, ou impossível, de se realizar num tablet.

Mas sua inovação, ou "resgate" na forma de organização gráfica dos softwares, ou apps, não deve ser descartada, e inclusive foi copiada na versão do Windows 8. A informática segue construindo seu caminho meio trôpega, nem sempre acertando nas "novidades". Mas agora posso dizer q por 15 anos odiei os Windows derivados da versão 95, e agora voltei a me sentir confortável com o display dos recursos q tenho em minha "traquitana" (gadget).

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Porque nao tenho cartao de credito

Resumo em 2 frases: quem tem dinheiro não precisa de crédito. Quem não tem dinheiro não deve pegar crédito.

Se vc quer ir além do resumo, preciso dizer uma ou 2 coisas a respeito do Capitalismo. Antes de mais nada, ele não é para iniciantes. O Capitalismo é uma grande pirâmide financeira q, mais cedo ou mais tarde, há de ruir. O Capitalismo é uma grande fábrica de vender ilusões. Ilusões de q todo mundo pode ser rico, de q todo mundo pode comprar tudo o q quiser, de q todo mundo pode ter o mesmo nível de vida q os americanos de classe média.

Isso é impossível. Para que o Capitalismo se sustente, é necessária a existência de um grande "exército de reserva" de pessoas desempregadas, subempregadas e exploradas, o famoso lumpemproletariado. E também, de uma boa cota de pessoas endividadas.

Há quem pense q os bancos se sustentam com as taxas bancárias. Tola ilusão. Os bancos se sustentam com os juros q cobram dos q adquirem crédito. Há quem pense q os bancos ficam mortificados quando alguém não paga em dia suas dívidas. Outro ledo engano. Os bancos exultam quando alguém atrasa suas obrigações, pois assim poderão cobrar muito mais juros por este empréstimo.

Banqueiros são agiotas legalizados, sempre querendo mais vítimas para sua exploração, oferecem mil facilidades para os desavisados caírem em sua teia de ilusões. Oferecem mil benefícios, dizem q seus serviços serão gratuitos, q não cobrarão juros nem "taxa de administração". Para quem nunca ouviu a frase, lá vai: "Não existe almoço grátis". Não existe nada q "saia de graça". Especialmente quando estamos lidando com agiotas e usurários.

O cartão de crédito nos diz o seguinte: "você pode gastar além do q vc ganha, nós somos seu 'banco amigo' e estamos aqui para realizar todos os seus sonhos". O cheque especial diz a mesma coisa: "vc pode gastar mais do q vc ganha, nós te damos um limite pra vc ficar no negativo, depois vc paga..."

Os bancos se aproveitam dos desavisados q sequer sabem o significado da palavra "juros" para enredá-los numa trama da qual dificilmente conseguirão sair. Dizem q todo "sonho de consumo" é facilmente atingível. E até é. É fácil ter uma TV de 50 polegadas HD de última geração em casa. O difícil será pagar 2 TV's quando vc só leva 1 para casa. Pq vc leva 1 e paga 2? Simples: pq vc financiou com um agiota.

Há quem ache q a maior parte do lucro das lojas de eletroeletrônicos como Casas Bahia, Magazine Luiza, Ponto Frio, Ricardo Eletro vem da venda de seus produtos. Outro ledo engano. A maior parte do lucro dessas lojas vem da cobrança de juros sobre bens financiados em dezenas de parcelas. Em outras palavras, da agiotagem. Há quem ache q essas lojas preferem q vc compre à vista, e não à prazo. Outro erro crasso. Preferem q vc financie. Assim, além do pequeno lucro da venda, terão o grande lucro dos juros cobrados a cada parcela. E quanto mais prestações tiver o financiamento, tanto melhor para essas lojas.

Na minha vida observei q quanto mais pobre uma pessoa é, mais ela gosta de fazer financiamentos desnecessários. Observei várias vezes o comichão de quem acabou de quitar um carnê de prestações se vendo quase que diante da obrigação de iniciar um outro. Pq "precise"comprar alguma coisa? Não! Pq quer e pq pode.

Quer pq o Capitalismo nos vende a ideia de q, a menos q tenhamos todos os eletrodomésticos de última geração, somos derrotados. Pode pq o Capitalismo nos diz que "todos os nossos sonhos" estão ao nosso alcance, facilitados pela nossa administradora de cartão de crédito.

O Capitalismo nos vende a ilusão de que é possível "vencer" usando as instituições financeiras como "aliadas". Nenhuma instituição financeira é sua aliada. Todas estão à espreita te oferecendo mil facilidades para cair na armadilha q te enredará sem escapatória, por anos.

Na última vez q estive no banco, foi para cancelar o "crédito do cheque 'especial'" q me impingiram sem q eu solicitasse. O atendente atônito tentou mil argumentos para me convencer a não cancelar meu "limite do cheque especial" dizendo q era uma facilidade, q eu podia precisar num mês em q eu descontrolasse meus gastos. Respondi-lhe: "É justamente por isso. Eu não quero me descontrolar em meus gastos. Eu não quero uma armadilha dentro da minha carteira sempre aberta e esperando um tropeço para me enredar". Ele ainda assim pareceu não entender meus motivos. Pareceu achar meio louca uma cliente q recusa "crédito" enquanto mil outros vêm todos os dias lhe pedir, ou mesmo implorar, a mesma coisa.

Sou da opinião de q ninguém deve dar "passo maior q a perna", e q cada um deve aprender a viver dentro das suas possibilidades financeiras, mesmo q isso acarrete em adiar ou mesmo desistir de ter acesso a bens materiais q, ao fim e ao cabo, não "precisamos", apenas "desejamos".

Só conheço uma forma de compra: à vista. Me orgulho em poder dizer q até agora, em toda a minha vida, jamais paguei um só centavo de juros, nunca devi nada a agiotas, nem a bancos ou financeiras. Jamais parcelei nada por um raciocínio muito simples: só devemos comprar algo quando temos dinheiro para isso. Se não temos dinheiro para isso, não devemos comprar. Devemos esperar, juntar o dinheiro e pagar à vista, possivelmente com desconto. Mesmo q sem desconto, ainda assim sem juros ;)

Sei q com isso abro mão de comprar muitas coisas. De ter uma TV, uma geladeira, um Blue Ray disc player, tudo de última geração. Mas ao mesmo tempo abro mão de perder meu sono preocupada com prestações, de possivelmente ter meu nome colocado no SPC e ter o "nome sujo na praça". E não sinto falta nem de uma coisa nem de outra. Aprendi q não devo "dar passo maior q a perna", nem "cair de patinho" nas ilusões de facilidades q me vendem.

Meu conselho aos leitores é este, simplesmente: viva com parcimônia. Todo mês, gaste menos do q vc ganha. JAMAIS tenham cartão de crédito nem cheque especial. NUNCA parcelem nem financiem NADA! Sejam donos do seu dinheiro, nunca paguem nenhum centavo de juros.

Nunca virem escravos do sistema financeiro. Nunca façam dívidas por um motivo muito simples: se vc tem dinheiro, pode comprar e não precisa de crédito/empréstimo. E se vc não tem dinheiro, não deve pegar crédito/empréstimo. Espere até vc ter dinheiro para pagar a vista, e só então compre.

Dormir tranquilo à noite, sem medo dos credores nem das dívidas, é algo q não tem preço!


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