quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Balanco de Yom Kipur 5773

A passagem do ano velho para o Ano Novo sempre é um tempo de reflexão sobre o passado e o futuro. No Ocidente celebra-se o Reveillon de acordo com o calendário Gregoriano, e muito dessa reflexão se perde entre preparações para a ceia, escolha de roupas, socialização com os amigos, bebedeiras e contagem regressiva.

Nunca senti q eu me encaixasse neste tipo de celebração. Desde muito jovem via com aversão coisas típicas desta época, como escolher a roupa de baixo de acordo com as energias "q se quer atrair", vestir-se de branco, guardar sementes de uva ou romã na carteira, pular 7ondas, jogar flores ao mar. É assim q, no Brazil, se comemora a passagem de ano na noite de 31 de dezembro.

Não sou judia, mas noachide. Os filhos de Noé, ou bnei Noach, são gentios q acatam a revelação do Sinai, são tementes a D'us, almejam um dia ser considerados "justos entre as nações".

Nesta busca religiosa, muitas são as dúvidas, os titubeios, hesitações, idas e vindas. E neste ano passado de 5772 grande foi o conhecimento q adquiri. Neste dia do Perdão (Yom Kipur) venho me debruçar sobre os avanços e melhoras e tive nestes últimos 12 meses.

Cresci, amadureci, melhorei, me fortaleci.

Nesta altura dos meses no ano passado eu tinha mais dúvidas e seguramente estava mais perdida do q hoje. Nunca devemos desdenhar, fazer pouco do presente da vida. Da oportunidade de viver um novo dia e nele aprender uma coisa nova.

Ano passado eu não tinha "emprego fixo". Neste novo ano me efetivei, concursada, como funcionária pública, como professora da rede estadual de SP. Muitos verão nisso pouca coisa. Mas para quem não tem "papai e mamãe" q o sustente, não é "de família rica", não tem "patrimônio" nem mesmo casa própria, ter um emprego efetivo é uma bênção. É a certeza q, ainda q eu ganhe pouco, não passarei fome, não me verei obrigada a morar "debaixo da ponte", nem terei q me degradar ou humilhar para ter o pão de cada dia. Portanto, agradeço a HaShem a bênção de ter dado tudo certo no curso de formação de professores, q eu tenha conseguido entregar todos os documentos em tempo hábil, e todas as burocracias e papeladas tenham dado certo.

Até o fim de 2011 eu era "categoria F" na rede estadual. A cada ano caía numa escola diferente, e muitas vezes ruim. Quando fui fazer a escolha de em qual escola me efetivaria, temi pois escolhi uma escola q não conhecia, não tinha a menor ideia de como seria. Tive uma boa surpresa ao optar pela E.E. Prof. José Cardoso. Primeiro pq tive a oportunidade de poder escolher uma escola na cidade em q eu já residia, sorte q poucos recém efetivados têm. Segundo pq a escola é bastante similar às q eu já conhecia, e não "terrificante" como outras das quais muito já ouvi falar. Terceiro, pq lá fiz novos amigos, boa gente, conheci colegas de trabalho dedicados, e superiores sem a "sanha burocrática de preencher papeis" q padeci em outras unidades escolares.

Neste 2012 comecei a cursar Libras, a linguagem brasileira de sinais. Embora seja muito difícil e eu esteja muito aquém de ser fluente, aprendi muito e me sinto agora mais preparada para lidar com alunos deficientes.

Sou uma pessoa bastante frugal, alguns diriam "mão de vaca" e não costumo "gastar dinheiro à toa". Cada centavo q ganho é suado e sofrido, portanto dispendê-los merece reflexão. Neste novo ano me dei um presente pródigo. Isso só foi possível pois para me efetivar fiz a "Escola de Formação de Professores", um curso online do Estado para os q passaram no concurso "provarem" q podiam lecionar. Os cursistas receberam como "bolsa de estudos" 4 parcelas de quase R$ 1.500,00. Eu recebia de bolsa mais do q ganhava para dar aulas. E não fosse essa bolsa, não poderia ter-me dado o presente citado. Comprei-me um iPad. Enquanto o fazia, com o coração na mão por gastar tanto dinheiro (quase R$ 2.500,00), pedia a HaShem q não me arrependesse. E em nenhum momento isso se deu. O iPad "revolucionou minha vida", me trouxe maior conexão com meus amigos, aumentou minha socialização, me abriu todo um novo universo de possibilidades, facilitou em muito meu cotidiano. Foi uma das melhores compras da minha vida, um dinheiro q não foi "gasto", mas "investido", pois me trouxe retorno.

Neste ano deixei para trás pessoas q me deixaram para trás. Parei de tanto remoer o passado. Desisti de algumas coisas e refoquei minhas energias em outras. Reorganizei todas as minhas músicas no PC. Mandei por correio um presente pro Jarson Brenner, uma das melhores surpresas q a Internet me trouxe. Redescobri o Romeu Marinho, vi o quanto sua amizade e sua família são especiais. Reencontrei o Henrique "Figura", sua esposa Jaque e suas filhas. Pude segurar em meus braços Benjamin, filho da minha grande amiga Gisele Bailer. Adicionei Aristein Woo como irmão, e Maria José Tomasella como mãe. Me aproximei dos meus primos Gisele e Renan. Tratei bem da minha avó, lhe fiz comida, pensei suas feridas e até lhe dei banho; e nada disso me pesou como obrigação, o fiz com gosto e carinho, pois como lhe disse com todas as letras "Vc é minha avó e eu te amo". Agradeço a oportunidade de ter podido lhe dizer isso e espero q no próximo ano eu diga a todas as pessoas de minha afeição o quanto as estimo.

Li poesias. Li a obra completa de Álvaro de Campos. Me deleitei com a Tabacaria. Reli "A Metamorfose" do Kafka. Li o Bhagavad Gita. Li a "História dos nossos gestos" dos Luís da Câmara Cascudo.

Sempre fui essencialmente acomodada e sedentária. Neste ano, para minha grande surpresa, abandonei isso. Comecei a fazer caminhadas, e apesar da descrença em mim própria, consegui levar isso a sério. Dei várias voltas no Lago Azul, fiz todas as trilhas do Horto Florestal de Rio Claro. Este contato com a natureza foi salutar. Toda vez q começava ia com a mente assestada em q não era capaz, até descobrir q era mais do q capaz de me superar, e de andar 10 kms. Q meu corpo, há tanto tempo dormente, é capaz de melhorar, se fortalecer. Hoje, quando apalpo minhas pernas, fico surpresa q não são mais molengas como antes. Agora consigo ver os músculos nas coxas e panturrilhas, o q muito me estimula a nesse novo ano investir ainda mais em minha saúde e forma física. Percebi q, se eu quiser ter o corpo duma Viviane Araújo ou Gracyanne Barbosa, eu posso. Quem sabe neste 5773 eu o atinja.

Estudei bastante a Torah. Publiquei ensaios teológicos no meu blog. Fiz dezenas de perguntas em comunidades no Face. Muitas originaram debates acalorados. Debati com rabinos, rabinos de verdade, deles recebi ensinamentos, e muito cresci com suas instruções e seus silêncios. Minha comunidade Bnei Noach se tornou ativa, cresceu, evoluiu, e está auxiliando muitos noachides em busca de instrução.

Meu blog está cada vez mais bem sucedido. Recebe dezenas de visitas diárias, ganhou novos seguidores, novos comentários. Há quem procure por mim na internet! Nunca achei q isso aconteceria!

Fortaleci minha amizade com diversas pessoas. E percebi q outras não mereciam minha dedicação. Tive uma grande decepção, mas tb boas surpresas. Pessoas com as quais contava me viraram as costas. Outras, q eu mal conhecia, se revelaram bons amigos. Para isso, o Facebook é muito bom. Ele nos dá, em números, o quanto as outras pessoas estão atentas ou prestam atenção em nós. Diversas vezes me perguntei "putz, quase todo dia curto ou comento algo q a pessoa X publica, mas ela não curte nem comenta nada q eu publico" ou então "já mandei tantas mensagens e e-mails tentando encontrar a pessoa X e ela não responde, 'dá um migué' ou adia isso prum momento q nunca vem". Aprendi a não mais dar tanta atenção a quem me ignora, a não mais esperar nada dessas pessoas. Aprendi q, embora eu considere tão amigos hj as pessoas q eram minhas amigas há alguns anos, elas se esqueceram de mim. Percebi q eu as estimava hj tanto quanto da última vez q as vi, mas a recíproca não era verdadeira. E percebi q não deveria me mortificar por isso. Assim como amigos vão, novos amigos vêm. E q os amigos do passado q permaneceram constantes mereciam muito mais da minha dedicação.

Investi meu tempo ocioso nas Tessituras de Penelope, fiz dezenas de trabalhos q me trazem alegria e orgulho. Sim, orgulho, da minha capacidade de fazer coisas bonitas, exclusivas e úteis, com minhas próprias mãos. Muitas das peças q fiz presenteei a pessoas amadas. Me sinto feliz q algo feito com minhas mãos sirva para enfeitar, aquecer e preservar a saúde das pessoas de minha estima. Publicando estes trabalhos num blog, recebi muito feedback positivo. Não só eu acho bonitas as coisas q faço. E cada novo seguidor e comentário é um estímulo a mais para fazer artes ainda mais elaboradas. Espero q no futuro minha arte com linha e agulha venha a ser uma nova fonte de renda, e humildemente peço isso para o Novo Ano q se inicia.

Ganhei um sobrinho. Meu segundo. A primeira, Ana Letícia Santos, pouco vejo, mas tive algum contato, a presenteei com um cachecol e um bolsa. Na Austrália, nasceu meu segundo sobrinho, Liam Novais Dermott. Espero no futuro ter uma relação próxima com ele. E q ambos meus sobrinhos saibam q os amo como se meus filhos fossem. Q na tia Fernanda eles têm uma amiga, uma protetora, alguém com quem poderão contar a qquer hora, não importa a distância e o tempo q nos separam.

Nem tudo foi bom neste ano, e nem tudo fiz bem neste ano. Alguns projetos foram esquecidos, outros adiados. Fiz e pensei coisas das quais não me orgulho. Sei q poderia ter feito muito melhor, fosse mais tenaz, constante, paciente, comprometida, disciplinada, responsável, flexível, aberta, receptiva, prudente. Fosse menos ansiosa, neurótica, apegada ao passado, arrogante, egoísta, preguiçosa, desbocada, gulosa, pessimista, prolixa, pedante e muitas outras coisas.

Porém neste ano percebo q não girei em falso. Não sou a mesma pessoa q era no período anterior. Cresci, amadureci, melhorei, aprendi, me fortaleci, refleti, li, pensei, aprendi a calar, aprendi a ver as coisas de outra forma, observei, escrevi, fiz novos amigos.

Agradeço a D'us por todas as experiências q me proporcionou. Agradeço pela bênção de ter podido viver 5772. E humildemente suplico q neste 5773 eu possa ser inscrita no Livro da Vida. Q eu aprenda ainda mais. Q eu seja capaz de atender às expectativas. Q eu cumpra meu Destino. Q a tecnologia nos traga muitas mais facilidades, oportunidades e chances de crescimento. Q eu possa colaborar na retificação do mundo (Tikkum Olam), q meus esforços e atividades sejam para o bem. Que HaMassiach venha. Q ano q vem eu escreva o próximo texto de Jerusalém.

Shaná Tová we Chatimah Tová le kulam!

Elisheva bat Noach

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Poema de Sete Faces - Carlos Drummond de Andrade

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
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